Jorge Bichuetti. Médico, Psicoterapeuta. Analista Institucional e esquizoanalista. Diretor Clínico da Fundação Gregorio F. Baremblitti/ Uberaba. Professor do Instituto Felix Guatarri/ BH.
Autor de Lembranças da Loucura, Crisevida e Estrelas Cadentes. Poeta, militante, sonhador...
... Entre amigos, madrigais e a Lua é um nômade caçando o seu devir passarinho.
Aos que virão peço perdão pelas ruínas que permiti serem caminho de devastação... perdão, eu peço... pelas flores que não reguei; pelo horizonte de liberdade que sonâmbulo não cuidei...
Dia claro... as nuvens caminham lentas. O tempo vai marcando o compasso da música que compomos com nossos caminhos e sonhos... Viver é alegrar-se... nos dias de ternura e paz e nos dias de luta e dissabores... A alegria é, para muitos, um fruto dado pela vida; outros já a concebem como produção íntima, onde o nosso coração gerencia nossos aborrecimentos e tristezas e inventa, em sintonia com as pulsações do infinito, alegria ativa na coragem de buscar e tecer as floradas do amor e da partilha... Amar é alegrar-se... conectando-se com a potência de afirmar, na nossa existência, a nossa capacidade de lutar, de se dar, de cantar, de sorrir, de servir, de ser... mãos dadas e pés no caminho... A passividade submissa é o sustentáculo das grandes tristezas... A ação criativa é fonte e ponte para os voos da alegria imperturbável... indomável... resitência alegre na produção da paz íntima que sempre resulta da nossa capacidade dar sentido à nossa própria vida. Produzir snetidos é viver com... entre... por... é povoar nossa existência com a poesia terna da solidariedade e da compaixão... Lutar é navegar... buscando o horizonte azul...
Nevoeiro... olhar turvo; a vida vista no lamento que ressoa, expontâneo das trilhas do coração.
O coração anda e voa, não teme as curvas do caminho, nem se encolhe diante dos vendavais: destemido, é andarilho do vento...
Na brisa suave e cálida, é a ternura e a suavidade do amor incondional, amor que é flor na alegria de se dar...
Nos temporais da paixão é a tortura ansiosa, um êxtase atormentado no medo do não que nasce no espinho do adeus...
O amor é a vida da gente: ave no céu azulado, ciscando as estrelas que brilham na pele; é ferida e é cicatriz; é sonho acordado ou um pesadelo sem fim...
Assim, é a alegria triste... quando o coração atropela as pedras do caminho; e é a serenidade sacra quando este mesmo coração se torna jardim semeado por flores que cantam alegres na chegada e na partida o belo dom de existir...
Nenhuma voz, nem grito; não escuto a canção do vento. nem ouço meu sibilante coração... Mergulhado neste profundo silêncio, a vida passa e nada noto, ela voa e não vejo as nuvens; sinto somente na pele as marcas do tempo e desnudo, percebo o horizonte: o azul não precisa de palavras, ele é... o infinito que, no silêncio, canta... com risos e prantos, semeando mudas e sementes que me inunda de alegria ao ver-me, simplesmente, ponto faíscante no espaço sem fim; uma pequenez embriagada pelos eflúvios da imensidão.
No silêncio, eu não sou; mas, caminho estando entre a chegda e a partida, entre a claridade e a escuridão... Nele, eu sou um vagalume no meio da ciranda dos deuses, um cisco no útero sideral: eu sou u'a flor na janela da vida, esperando escutar a derradeira seresta. para seguir além sendo tão-somente o bailado da folha seca que aduba o solo, refazendo a roda-viva da procriação...
"VIVER É MORRER NO IMPÉRIO DO EU; PARA RENASCER NO NÓS DAS FLORADAS DDO ALVORECER"
Na velocidade da rotina, meu coração pede rio e mar; aconchego de mata verde e maciez de relva... Campinas e montanhas... Jardins floridos e canções... Sedento, quer poesia... Poesia escrita na maestria do olhar mágico dos velhos poetas... poesia silenciosa no encanto da natureza que viceja resistente, tecendo auroras e noites enluaradas como se tricotasse o destino com sonhos... sonhos de amantes... e sonhos de meninos...
Minha vida é comum... Homem comum vivo meu tempo... Mas, meu coração rebelde deseja mais... quer parir novas vidas e quer dar chão ao porvir... Contesta, porém, não é tristonho: meu coração vive mergulhado em sonhos.
Dizem que a realidade é dura e cruel... Assim, a sinto vendo a morte e a desvalia da vida de tanta gente, que para não inundar-me de lágrimas, nomeio de outro... sendo eles, contudo, parte de mim... tanto quanto deles sou parte... na canção do infinito que nos clareia o caminho, clamando por uma nova vida, vida de humanidade.
Há demasiada dor no mundo...
Há cruéis opressões; violentas ações nefastas que acinzentam o mundo... descolorindo os caminhos que vêem suas flores secadas na fornalha da exclusão...
Meu coração não pode...
Ele sonha... seus sonhos colorem, de novo, o horizonte... assim, vejo outros que também vivem dados ao sonho e redescubro um mundo cheio de cores e sentidos; com um horizonte povoado de lutas de ânsias de mudança.
Enluarar-me é meu esforço diário... minha atitude de vitalizar-me para seguir caminhando.
E estes sonhos convocam minha vida a uma radical transformação.
Viver o amor e a compaixão, a solidariedade e a ternura são exercícios que me sustentam no caminho.
Não os tenho expontaneamente... cultivo, como quem semeia na terra orvalhada de sonhos o próprio pão que o permite ser... para além do que é... e viver no alvorecer de um tempo que ainda irá chegar...
Caminhos pedregosos, na solidão da vida de quem busca no aqui, um além, é o chão da utopia: a vida de luta entre o sonho e a realidade...
Há porvires no cascalho que sangra; há devires no espinheiral que corta e rasga a pele... A vida brota no cipoal das angústias que ferindo, retalhando; obriga-nos a voar, buscando dar concretude ao que antes era apenas flores e frutos desenhados nas telas das ilusões...
UM AMOR... Jorge Bichuetti
Um amor é vela no mar; entre ondas, um leme... é a força da vida que azul funde no horizonte o inquieto mar com a doçura do céu sereno e calmo: abrigo das tempestades; inspiração nativa das pulsações das paixões que navegam na pele quanto aninham no espaço das estrelas e do luar, do cosmos - um infinito que louco é a vida na poesia surreal do amor de mãos dadas que caminha destemido no éden ilimitado, das flores miúdas dos beijos de mel do carinho que é compasso das melodias trans-siderais...
- "Se você odeia alguém, é porque odeia alguma coisa nele que faz parte de você. O que não faz parte de nós não nos perturba."
- "Todo o humorismo sublime começa com a renúncia de se levar a sério a própria pessoa."
- "Sem amor por si mesmo, o amor pelos outros também não é possível. O ódio
por si mesmo é exactamente idêntico ao flagrante egoísmo e, no final,
conduz ao mesmo isolamento cruel e ao mesmo desespero."
- "Não existe nada tão mau, selvagem e cruel, na natureza, quanto os homens normais."
- "Para que resulte o possível deve ser tentado o impossível."
Tempo nublado... orvalho macio e cheiroso no sereno da madrugada... Fios de luar; rastro de estrelas... No escuro, com os álamos tremulando, leves e suaves, eu espero... o sol. Quero alvorecer e seguir, sem apagar a magia dos meus sonhos; sem racionalizar a alquimia das grandes poesias que lendo-as, voo e alto, trisco o céu...
A vida nem a morte me assusta; temo não devir-me caminho...
O silêncio da noite... a neblina... o escuro... Me percebo só no meio da madrugada e, assim, libero meu coração que enlouquecido alucina o novo dia com a alegria de embaralhar a natureza e afugentar as cinzas do mundo... semeando na terra orvalhada estrelas e astros, cometas e galáxias... o céu no chão, brotando na relva... cintilando as águas dos rios...
Viver é caminhar...
Caminhando, desbravamos clarões e clareiras no coração da própria existência.
Caminhar não é dar passos, no automatismo dos que seguem pela estrada alheios aos clamores do horizonte.
Caminhar é ir num seguir andarilho, tecendo no caminho a vida nova de ternura e compaixão, solidariedade e libertação...
Caminhar é materializar na poeira do mundo os eflúvios etéreos e inovadores dos sonhos que ativam, no hoje, o próprio porvir...
Quase sempre, somos batráquios e anfíbios hipnotizados e hipnotizadores que tentam aprisionar a vida no brejo das vivências do tempo passado; evitando parir no caminho uma novidade radical.
Acostumamo-nos ao existir limitado pelas opressões do mundo que nos engaiolou no pio dos nossos complexos, bloqueios e limitações...
Urge seguir adiante... é necessário caminhar desacorrentados... livres ao alvorecer; com a pele pulsante e brilhante no cio do devir...
O paraíso é o céu adiado... fé passiva; esperança inerte...
Deus é vida andarilha; reinvenção e criatividade... é a ciranda da alegria que desperta os sonhos; é a seresta da ternura que adormece monstros e fantasmas... e forja no caminho trilhas e veredas do amor incondicional...
Ele é caminho... caminho de libertação... vida plena... de abundância...
Muitos não vivem, esperando o céu...
Muitos não superam seus limites, esperando o milagre divino...
No entanto, Deus é sacralidade no profano caminho onde o ser humano semeia estrelas na poeira do mundo. Amor visceral na transversal do tempo; amor sideral nas cósmicas folhas secas que se dão para que ninhos sejam tecidos nos cantos do acolhimento.
Com espinhos me feri; cicatrizei flores e sonhos entre o canto e voo dos passarinhos...
Quando o mundo me quis no chão: brotei... germinei vida e cantando, segui...
Agora, sou no espelho que me desnuda os pensamentos a força da terra nos oásis de amor; das minhas cruzes, fiz pontes e saltei
borboleteando a vida sobre o visgo dos abismos...
DEUS Jorge Bichuetti
vasculham a imensidão, não encontram... não o pressentem...
eu o vejo, diariamente: refletido na íris dos olhos risonhos dos meninos, nos pés sangrantes dos devotos peregrinos e no canto de ternura dos badios passarinhos...
Exigências me fizeram
Cobranças impostas e
Eu, menina, adolescente
Adulta, mulher, mãe, filha
Segui o caminho dos outros...
Com rebeldia!
Exigente fui comigo mesma
Cobranças fiz ao longo da vida
A mim e aos outros
Até que o sol se fez presente
Sem véus, sem filtros e
A vida se me apresentou
No espelho com uma realidade
Desnudada e provocante!
De repente vi-me frente a
Um espelho questionador
Um ‘outro’ a fitar-me no olho
Com a sobrancelha erguida.
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente
exausto. No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida E
eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado. Quero só que
surjas em mim como a fé nos desesperados Para que eu possa levar uma
gota de orvalho nesta terra amaldiçoada Que ficou sobre a minha carne
como nódoa do passado. Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em
outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande
íntimo da noite. Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a
tua fala amorosa. Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa
suspensos no espaço. E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu
abandono desordenado. Eu ficarei só como os veleiros nos pontos
silenciosos. Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir. E
todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz perenizada
- "Todas as coisas têm o seu mistério, e a poesia é o mistério de todas as coisas."
- "A poesia não quer adeptos, quer amantes "
- "A Terra é o provável paraíso perdido."
FEDERICO GARCÍA LORCA
AR DE NOTURNO ( Frederico Garcia Lorca )
Tenho muito medo
das folhas mortas,
medo dos prados
cheios de orvalho.
eu vou dormir;
se não me despertas,
deixarei a teu lado meu coração frio.
O que é isso que soa
bem longe ?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu !
Pus em ti colares
com gemas de aurora.
Por que me abandonas
neste caminho ?
Se vais muito longe,
meu pássaro chora
e a verde vinha
não dará seu vinho.
O que é isso que soa
bem longe ?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu !
Nunca saberás,
esfinge de neve,
o muito que eu
haveria de te querer
essas madrugadas
quando chove
e no ramo seco
se desfaz o ninho.
O que é isso que soa
bem longe ?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!
Entre nuvens, relâmpagos e trovões... chove... a água cai, rolando entre pedras e se aninha na cova aberta da terra, este azul coração da vida.
Ante as dificuldades da vida, acostumamo-nos ao fatalismo paralisante do pessimismo. Não enxergamos a vida para além dos obstáculos... ali, onde ela recomeça e floresce, dando-nos , novamente, calma e serenidade.
Nos atropelos do caminho, paramos... além, porém, mora o alvorecer de um novo tempo, novo caminho de canções e poesias, flores e sonhos.
Desistimos, facilmente...
Nocauteados, choramos...
A vida sempre ensina...
No baú velho das minhas lembranças, encontro a magia da vida alada que passando, renova-se e nos dá forças para nossa própria inovação.
Ali, no baú velho, escritos amarelados me contam de lágrimas que antes feriram e me enlouqueciam... flores murchas narram os amores perdidos... um poema diz de cicatrizes que o tempo apagou...
O meu baú velho me ensina que tudo passa... tudo se transforma... mas, que, no entanto, a vida não perece na vulnerabilidade das nossas tristezas e lágrimas...
Ela brota insurgente, contagiando-nos com novos sorrisos... alegrias que emergem no espasmo das curvas dos rios.
Recordo minha infância: pipas, cachoeiras, a bola...
Revejo amores e desilusões; perdas e angústias...
Ele, o meu baú valho, me mostra a vida nua...
Revela-me o poder do tempo que cura nossas feridas e cicatrizes; deixando vento nos trazer novos caminhos e sonhos.
Há vida nova... além dos abismos...
Há alegria e paz... após, a calmaria que segue na ternura e na mansidão que superam os ruídos e impedimentos das tormentas que nos acuam nos rodopios das tempestades...
Quando sofremos, cremos... que a escuridão seguirá eternamente nos impedindo de ver o brilho das estrelas e do luar...
... depois, olhamos para trás e constatamos que o sol renasce, instaurando na alvorada a beleza de um novo dia... deixando no baú, nossos bloqueios e problemas, as cinas das horas tristes e cheias de angústias...
Assim, não como descrer: tudo passa, mas fica a ternura da aurora e a alquimia do tempo que tudo transforma...
Permanece o amor... e com ele nossa flores e passarinhos: inspiração para tirar da virtualidade os sonhos e colocá-los redivivos nas pulsações cósmicas da vida que tecemos no entre o esforço laboriosa de nossas mãos e a candura guerreira da ternura de nossos corações...
Caminho. Entre pedras, verdejo relva nas entranhas do tempo; e, solitário, sigo perseguindoas folhas secas que me levam aos jadins floridos da nova primavera.
LASCAS DO INFINITO Jorge Bichuetti
a pedra é u'a lasca do infinito... rocha que se abre à flor; vida resistente no sonho de ser caminho...
- "Considerar a nossa maior angústia como um incidente sem
importância, não só na vida do universo, mas da nossa mesma alma, é o
princípio da sabedoria." Fernando Pessoa
- "A angústia de ter perdido, não supera a alegria de ter um dia possuído" Santo Agostinho
- "A vontade é impotente perante o que está para trás dela.
Não poder destruir o tempo, nem a avidez transbordante do tempo, é a
angústia mais solitária da vontade." Friedrich Nietzsche
- "Quando me amei de verdade, pude perceber que minha
angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou
indo contra minhas verdades.
Hoje sei que isso é... Autenticidade." Charles Chaplin
um rio de lágrimas de chuva no telhado de mina... santa; encanto magia: meu coração aprendeu a florescer e a voar... na ginga da alegria que é coragem e poesia dos que sabem na vida navegar...
um rio é corrente; encanteria dos que não temem a dor de amar...
jorge Bichuetti
saudade é oração de amor... um ser presente na distãncia do adeus...
amar é devoção, u'a flor... sempre viva num canto do coração...
jorge bichuetti
amor partido asas com penas no cortado das desilusões...
amor vivido eterna flor rosa nos en-cantos de um coração...
UNIVERSIDADE POPULAR - Amigos, dia 14/07/2012, temos nosso encontro mensal da Universidade Popular Juvenal Arduini... Na terça, 10/07/2012, às 19:00 o Grupo de Estudos sobre a obra de Juvenal Arduini... conversão e análise do capítulo Criticidade do livro Ousar... Após, o estudo a discussão sobre dependência química... No sábado, cursos, oficinas, e atividades de arte e cidadania.... Construir a Universidade Popular é gerar germinativo um território de liberdade e ternura, solidariedade e compaixão... Educação dialogal e criticidade inventiva... Caminhada partilhada na alegria de superar o tecnicismo e o individualismo, para repensar o mundo e nossas vidas, nas afetações da vida que inventa na e pela inclusão social. Voo no amor fertilizante e revitalizador dos que no novo buscam um tempo de delicadeza...
07/07/2012 - Em BH, na praça da estação... a luta social por preconceito zero. Participe: diga não aos microfascismos... Diga não à exclusão... Preconceito zero é vida na alegria do direito à diferença; no respeito incondicional aos direitos humanos... é amor includente... "relva que medra entre as pedras do caminho" Convocação da Fundação Gregorio F. Baremblitt de Mg e de diversas ONG's... A vida voa nas asas da liberdade...
A chuva cai e, entre versos e sonhos, aspiro o cheiro perfumado da terra, agora, molhada que germinará novas florações no caminho da existência. A vida não para... Fecundidade resistente, é a flor murcha, reinventada na força ativa dos sonho que não desiste de entre pedras, florescer...
Quando se chove... a água que cai é espelho; desnuda-nos revelando como anda a nossa capacidade de viver com coragem de inundados de lágrimas, tecer u'a nova primavera...
Muitos enlouquecem com a chuva...
Não sabem o que fazer na quietude forjada pela chuva que nos prende, distanciando-nos do corre-corre da vida robotizada de agir, mecanicamente, mas agir...
A chuva cai... e escutando Nana Caymmi, leio Dona Cora Coralina...
Não me inquieto de temor, nem me esgota nas preocupações: mergulho no oceano de serenidade das artes... como se deixasse a chuva limpar, adubar, fertilizar meu velho e cansado coração.
Assim, me remoço e cheio de sonhos, floresço para recomeçar a luta... povoado de serenidade e ternura...
Serenidade e ternura são forças ativas que sustentam nas intempéries nossas potências... Nossa capacidade de tolerar adversidades, nossa capacidade de esperar, tecendo ativamente um novo dia.
Muitos gritam: queria ser terno e sereno!!!
Contudo, serenidade e ternura não são frutificações mágicas... as produzimos, as conquistamos... no esforço de rompendo com a brutalidade e com a vida robotizada da força bruta, criar, em nós mesmo, a capacidade de agir e transformar... inventivos e sonhadores... vidas parideiras de inovações no tempo e no tempo ruim...
Se descobre o que pode um corpo na suavidade...
Boff dizia que homens comuns viviam como galinha, ciscando a mesmice do cotidiano; os guerreiros, como águia, voando... nas alturas...
Eu diria que não sou nem galinha nem águia... sou a bricolagem das abelhas laboriosas com as cigarras cantantes...
Talvez, metamorfoseante, como todos podemos ser... seja eu uma composição entre as formigas disciplinadas no ofício de cuidar da tribo e o voo dos nômades passarinhos...
A suavidade nasce... na multiplicidade que compõe u'a vida, conectando paciência compreensiva e continente com o espírito guerreiro dos que resistem, afirmando a vida.
Podemos nos reinventar...
Experimentar ouvir a chuva, lendo Guimarães Rosa e Jorge Amado; Mario Quintana e Drummond; Manoel de Barros e Fernando Pessoa... Arteando; viajando nas asas dos sonhos e dos sonháveis.
Ouvir Cartola e Pixinguinha; Bach e Vivaldi...
Prosear no fogão de lenha... com café quente e broa assada...
Viver é alegrar e se alegrar...
É voar e brilhar... É, por pura coragem, amar e se dar...
O desespero ante a adversidade é tão-somente... nossa limitação de nas encruzilhadas, bifurcar... desbravando novos caminho e sonhos, novas paixões e horizontes azulados nas pulsações do nosso próprio coração.
Pedrinha miúda do caminho, ardo na esperança de tecer u'a nova suavidade...
Já fui a flor da noite na magia dos becos; fui fruto e folhagem nos sonhos fantasiados que inventei para esperar o amanhã...
Esperança visceral, vivo... entre a dor da indignação e meus sonhos de primavera...
Assim, meu corpo é corpo dado à terra.
Meu corpo é uma lasca de sonho, um canto no silêncio... Espera no tempo, alucinação de vida nova... Assim, na chuva, sou a utopia que mora no coração da semente...
SEMENTES DO AMOR JORGE BICHUETTI
Antes era deserto; vazio no coração da vida maltrapilha chorada na desilusão... Depois, fui relva... vida resistente na luta, verdejante florescer entre pedras... Agora, sou... o chão molhado e louco pela vida que mora nas sementes de amor, magia e encanto... que renovam os caminhos com floradas nascidas no meu peito: este singelo canteiro... que já teme as germinações inovadoras das flores novas, flores novas na coragem do amor, flores novas no caminho que sempre recomeço com a altivez da fé que entre o o raio e o trovão, escuta, no cio da terra, o estribilho das paixões...