segunda-feira, 18 de junho de 2012

DIÁRIO DE BORDO: O SOL NASCERÁ...

                        Jorge Bichuetti

Madrugada fria e silenciosa... Mas, o sol nascerá... com a seresta dos passarinhos, as preces metálicas dos sinos... e o carinho do orvalho, dando maciez à vida.
Agora, no escuro... espio a vida no brilho carinhoso dos olhinhos de Lua; a pequena Luinha...
Escuto Cartola e nas pulsações do meu coração, noto: a vida acontece...
Recordo minha mãe e a vejo sorrindo no salão festeiro de Conceição das alagoas, onde agora com o seu nome, persiste as lutas, as alegrias e a caminhada de sonhos da terceira idade... Ela era / é uma guerreira...
Com ela aprendi rosário vivo da compaixão e da solidariedade...
O café quente... nesta manhã fria, me faz sentir saudades dos seus abraços.
Conceição é a vida num canto entre diamantes e a argila que vai tecendo o porvir... Céu estrelado; luar...A avoenga primeira Lua; luar que persiste no coração amoroso do garimpo que hoje é explosão de pepitas de generosidade e no singelo amor da minha luinha.... que é garimpense de coração na filosofia de alegria de um povo que não desistiu de amar...
A cana cheira forte... mas não apaga a lembrança do cheiro de rosas e jasmins, samambaias e gabirobas... no singelo campo lavrado pelas mãos da vida que teimosa, floria... como se a primavera ali morasse no coração das pessoas...
Menino nos folguedos do rio... jovem nos becos da noite, descobrindo com as estrelas a arte de sonhar acordado...
Cresci... Envelheci... contudo, sou apenas uma folha que bailando nas águas do rio Grande caminha na sua ânsia de mar; enamorando-se pelo caminho da vida verdejante... Brisa estelar...
O sol nascerá... me despertará das nostalgias e no dia, seguirei... escutando o assobio do amor na ternura das Aves Marias que germinam cantantes no ventre da simplicidade que é casa e ninho dos que sabem o valor da serenidade e grandeza das belas amizades...
No meio-dia... imerso nos problemas da vida de agora, chorarei minhas saudades...
... e seguirei, lutando.
Herdei de meus pais e da minha terra, a luta... o esforço por ver a vida nos redemoinhos da mudança... um mundo de paz.
Assim, penso... sustentabilidade é vida cuidada no ventre amoroso de um povo que preserva e se preserva; acolhe e se acolhe...
O sol nasce... brilha, clareia... fertiliza e germina... ama a vida e teme os que destruindo os mananciais da vida o aquece... ele teme: a terra acidificada e esterilizada... árida e petrificada...Deprime, pois, sabe que não suporta viver sem verdejar...
Conceição, conte, para os nobres governantes da Rio +20, o quanto dói não ouvir o canto da patativa!...
O quanto dói ver águas do Rio Uberaba... degradadas... ventre estuprado pelo lixo e pelos agrotóxicos...
A Terra - a nossa Mãe Gaia - nos quer nos seus braços...
Amorosa, não entende por que o matricídio... Ela se deu... generosa e pródiga... amou... queria que seus frutos fossem semente da vida abundante de um tempo sem fim...
Ecologia não só a sustentabilidade da natureza, do social e dos nossos próprios universos mentais...
Ecologia é o punhal da ganância versus o carinho filial... E, ela, nossa Mãe Gaia, Pachamama, celeiro do amor sem limites... é hoje um grito de dor no ventre ferido que carrega... na saudade de seus filhos que se foram... e no medo de que se seguimos sangrando-a seu útero secará...



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