Na madrugada, o céu nublado parecia a vida gente: território cinzento, se temos preguiça de caçar as estrelas da resistência... As vi. Caminhando pelo quintal, o vento melodiava a dança dos álamos que teimaram e, esquecidos do frio, acordaram manejando o tempo e impondo com sua alegria um alvorecer primaveril... as rosas os acompanharam... e, eu, ali, no meio... já não sabia onde começa m as festas e as orações... me parecia que são o verso e o reverso da mesma magia.
Luinha, minha pequena, queria acompanhar-me... No começo, neguei: temi o resfriado das manhãs frias e solitárias; depois, a abracei e a levei comigo... Juntos, ouvimos os passarinhos e o sinos... a aurora na capelinha da ternura que é vida de amor... amanhecemos, sonhando...
Freud, moço teimoso, que só via a lamúria da infelicidade da sociedade repressiva, dizia que sonho é tão-somente a volta do recalcado...
Jung, moço dado as bruxarias, percebeu que sonho é vida que se cria, que se reinventa... vida azulada nas pedrinhas miúdas que refletem a imensidão do próprio infinito.
Sonho é vida... muitas vezes, vida no colo uterino... um virtual doido por ser parido.
Quanta vida há imersa na nossa, porém, ainda não atualizada - não parida... vida que ânsia, sonho... poesia nômade, querendo ser vida caminhante...
Muitos permanecem vendo na doença uma expressão da morte: morte sorrateira que chega de mansinho...
Outros, já enxergam na doença a vida não parida... Novos caminhos e horizontes... Novas fontes e pontes sobre o abismo... novos voos no território do devir...
O voo da doença é perigoso e indigesto, quando não lhe oferecemos ninho... como o mar o é, sem cais...
A doença definha-se, debilita-se... se intensificamos nossa capacidade de ativamente atiçar o fogo da vida.
Um sopro criador... numa resposta florida de amor.
Colocar o mundo de cabeça para baixo - dirão alguns...
Particularmente, minha cabeça não é alérgica ao brilho do céu estrelado.
Com os pés, tocarei, carinhosamente, as belas e encantadas estrelas.
... e bailaremos: uma roda, uma gira... uma bricolagem, salada temperada com manjericão, onde o sacro e o profano, misturados, lograrão colorir nossa humanidade...
Sopraremos cinzas e nuvens... Abraçaremos o arco-íris...
Sei que muitos só enxergarão neste texto a poesia surreal; mas, não os ouvirei... lerei, com carinho os versos do branco mais preto do Brasil:
"De manhã escureçoDe dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando." Vinícius de Moraes
14/07/2012 - encontro mensal da universidade popular juvenal arduini
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