sexta-feira, 15 de junho de 2012

DIÁRIO DE BORDO: PAIS E FILHOS

                        Jorge Bichuetti

Amanheci com alegria e serenidade... as dores voaram e eu, logo, pulei entre sonhos e mergulhei meu coração nos encantos do meu quintal... Singelo, porém, tão amigo e acolhedor... Ali, vi minhas rosas e álamos; recordei Neruda e sua juventude... A luta dos estudantes do Chile... Ante o limoeiro, enlouqueci - senti a gosto da tequila no café quente do alvorecer... Oh! minhas rosas... tão dadas, e eu as querendo tão minhas...
Os passarinhos voavam, pareciam loucos por ver acordadas as badaladas dos velhos sinos...
Eu, ali, ébrio com a beleza da vida... sussurrei, pecaminoso, disse a minha Luinha que o infinito era belo porque havia copiado a magia do seu olhar...
Eu, psicoterapeuta, de ofício... me percebi nada sabendo das ânsias, dores e alegrias que levam aos pais enxergarem o mundo através do olhar carinhoso de seus filhos...
Édipo?... Autoadoração projetiva?... Idolatria familialista?...
Quanta teoria!...
Meu cérebro escutava atento a todas... mas, meu coração aluado, contestava: é só amor em Sol Maior... sinfonia expontânea do amor que é tecido no carinho diário e na caminhada partilhada onde abandonamos nossos desejos de amar-se na loucura de ver estrelas e cometas rodeando os nossos passos... Amor maior...
A Luinha se sentiu... feliz, aconchegou-se e com mimos irresistíveis me fez ver que tinha vida dupla: corria pelo quintal; porém, morava no meu coração...
Já pode atender corações marcados pelo excesso de amor e outros, alijados deste pequeno do carinho fraternal dos que lhe deram em parceria com o infinito a vida.
Reconheço: há dores na amor demasiado e na rejeição...
Os que foram vítimas de amor demasiado; logo, quebram as algemas e livres, voam... assumindo sua singularidade...
As vítimas da rejeição custam a crer... no pode o amor.
Pensando, me senti aliviado dos meus pecados...
Minha pequena é dengosa...mas vive feliz: suporta a solidão; conquista novos amores... caminha...
Caminha tanto que muitas vezes preciso reler toda a minha biblioteca para calar a voz do ciúme.
Ah! como se arrastam machucados os que não conheceram o amor. Os filhos de ninguém tendem a negar que é possível serem amados, pois querem proteger, aniquilando seus próprios caminhos, aqueles que deveriam amá-los e e que rejeitando-os, imprimiram no psiquismo deles a ideia de que não merecem, não conseguem, não podem serem amados.
Assim, entre pais e filhos, o amor que educa e acolhe é libertador...
Os escravizados pelo amor excessivo necessitam libertarem-se e assumir caminhos e horizontes, seus próprios desejos e projetos... e logram a libertação e a autonomia...
Contudo, com os filhos de ninguém necessitamos de cuidar, amando numa intensidade que lhes permitam apagar as lembranças do desamor... para que aí então voem.. brilhem... acreditando na vida que não acolhida é sempre vida excluída...
Amemos... os estragos do excesso é superavél, remediável... Já para cuidar dos que nunca foram amados, urge que amemos muito, pois carecem de renascer no carinho de um novo amor... para suportarem o vazio que se fez ferida, cuja cicatrização só é possível num contexto dos encantos do amor...
Não os condenemos... pois seus registros de violência e desamor não vieram da natureza... foram forjado no amor negado.


2 comentários:

paulo cecilio disse...

Fiquei sem fôlego!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Paulo, ah! como precisamos de ser irmão do vento. Entre estrelas cintilantes e o luar... ali, onde canta o sabiá. abs ternos, jorge.