sábado, 19 de fevereiro de 2011

BONS ENCONTROS: HENFIL, VIDA PELA CAUSA...

UBERABA, 19 DE FEVEIRO DE 2011

                         Querido Henfil,

Lhe abraço com a saudade do povo brasileiro.
Aqui, muita coisa mudou; outras, vão de mal a pior... Aí, teve ser mais encantador e libertário.
Temos mua mulher presidente, Dilma Rousself, substitue Lula, o seu amigo das greves e da resistência. Ela foi uma guerrrilheira da COLINA...
Tudo parece ótimo,não?...
Descobriram no lixo do Congresso Nacional, uma anotação de um dos nossos  ilustres parlamentares: eles não querem aprovar o Plano Nacional de Direitos Humanos - 3, nem a crimilalização da homofobia...
O papel rasgado dizia,: que tal, vou propor um terceira via, fica proíbida a união civil entre pessoas do mesmo sexo, sendo liberado relações extra-conjugais iimitadas...
Sabe, amigo, é o mesmo; o machão brasileiro; hetero e homofóbico, é  de dia o machão, depois, do sol se esconder a "gente"
abre o armário, salta a franga , sempre se dá um jeitinho...
Estão ganhando do Maluf: querem manter impunes os crimes homofóbicos. O motivo?
Os senhores senadores  deputados, longe do plenário, dizem, que a esquerda querem destruir, pois, bicha deve morrer, que homem de bem ( como eles) não merecem viver com tanta tentação, e como não santos já não suportam as penitências...
Ia-me esquecendo, amigo, mas andam fugindo de discutir a discriminalização do aborto, alegam que é um crime contra vida desejar evitar a morte das mulheres que eles engravidam, não querem pagar pensão, nem dignificar as relações, deixando a mulher decidir suas ações.No diz que me disse dos corredores de Brasília, fala-se que alegam que não merecem mais esta complicação.
Ah! Henfil, que falta você faz!...
Eles tentam impedir a Comissão da Verdade, pois querem apagar nossos desaparecidos, nossos torturados, nossos amigos vilmente assassinados das páginas da história; é pouco? Tem mais: acusam a moçada dos direitos humanos de comunistas que querem manchar a honra dos torturadores e assassinos que servindo as forças armadas nos livraram do mal, e acrescentam: o que é um crimezinho na vida de uns homens tão honrados?
Perdoa-me abusar da sua amizade e dedicação ao povo brasileiro, vê se os anjos dai dão um jeitinho, pois, aqui a coisa anda mal, que nem o diabo anda tendo serviço; os covardes, os hipócritas e corruptos fazem o dever de casa dos desmandos do inferno.
Assim, dá um forcinha: pede ajuda a Deus e a Nossa Senhora... Vê com eles se um raio de lucidez com  um trovão de dignidade e justiça não poderia, assim, cair providencialmente, sobre o nosso digníssimo Congresso Nacional.
                         Saudações amigas do povo brasileiro,
                                                  Jorge Bichuetti
PS. A goibada com queijo lhe mando na próxima partida de alguém confiável, só para evitar extravio, certo?...


"Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a sombra das folhas; se não houver folhas, valeu a intenção da semente." Henfil

REFLEXÕES DO HENFIL:

- Enquanto acreditarmos em nossos sonhos, nada será por acaso.
- Enquanto os sábios pensam sem certeza, os idiotas atacam de surpresa
- Viver é uma tarefa urgente, porque amanhã é uma coisa que não dá pra pensar, não dá pra fazer planos, hoje é urgente, amanhã é a morte, ontem, graças a Deus, teve ontem!
- Não busques a vaidade de ter o melhor que os outros. Contenta-te com a tarefa gloriosa de tentares ser melhor que és. Que tu não sejas o teu limite de crescimento, mas o teu grande questionamento, o teu grande interrogado
- Deus, que é homem, arrumou barro para brincar de fazer a Terra, os seres humanos, deu o sopro, aquelas coisas... Nossa Senhora não precisou fazer nada disso. Simplesmente gerou Jesus Cristo, só isso e já fez tudo. O fato de ter um filho, torna a mulher um ser adulto desde que nasceu.
- Há um radar coletivo que os pobres têm, e que os ricos não têm, tanto que estão levando o mundo para a própria destruição deles: a classe rica vai ser destruída pela próxima movimentação da Terra. Eles perderam o faro, perderam a sensibilidade porque a morte para eles é uma coisa que não existe
- Quando eu faço um desenho, eu não tenho a intenção que as pessoas riam. A intenção é de abrir, e de tirar o escuro das coisas
- "Por muito tempo, eu pensei que a minha vida fosse se tornar uma vida de verdade.
Mas sempre havia um obstáculo no caminho, algo a ser ultrapassado antes de começar a viver, um trabalho não terminado, uma conta a ser paga. aí sim, a vida de verdade começaria.
Por fim, cheguei à conclusão de que esses obstáculos eram a minha vida de verdade.
Essa perspectiva tem me ajudado a ver que não existe um caminho para a felicidade.
A felicidade é o caminho! Assim, aproveite todos os momentos que você tem.
E aproveite-os mais se você tem alguém especial para compartilhar, especial o suficiente para passar seu tempo; e lembre-se que o tempo não espera ninguém.
Portanto, pare de esperar até que você termine a faculdade; até que você volte para a faculdade; até que você perca 5 kg; até que você ganhe 5 kg; até que seus filhos tenham saído de casa; até que você se case; até que você se divorcie; até sexta à noite até segunda de manhã; até que você tenha comprado um carro ou uma casa nova; até que seu carro ou sua casa tenham sido pagos; até o próximo verão, outono, inverno; até que você esteja aposentado; até que a sua música toque; até que você tenha terminado seu drink; até que você esteja sóbrio de novo; até que você morra; e decida que não há hora melhor para ser feliz do que agora mesmo...
Lembre-se: felicidade é uma viagem, não um destino"


                   CARTAS DO HENFIL:


São Paulo, 26 de dezembro de 1979.

Mãe,

Aqui estou eu, em mais um Natal, fazendo desta carta meu sapato colocado na janela.
Eu fui bom este ano, mãe. Eu acho que fui muito bom. Eu fui solidário com todos os meus irmãos Betinhos. Fiz greve com todos os Lulas. Quebrei Belo Horizonte como todos os peões. Voltei pro país que me expulsou como todos os Juliões. Dei murro em ponta de faca como todos os Marighellas. Cantei as prostitutas, as mulheres de Atenas e joguei pedra na Geni como todos os Chicos Buarques. Aspirei cola como todos os pixotes. Fui negro, homossexual, fui mulher. Fui Herzog, Santo Dias e Lyda Monteiro.
Fui então muito bom este ano, mãe.
Aqui está minha carta sapato.
Vou fechar os olhos, vou dormir depressa.
Esperando que meia-noite todos entrem pela minha janela. Me façam chorar de alegria, que eu quero viver!
A bênção,

Henfil



São Paulo, 1º de setembro de 1978.

"Eu nunca soube amar. Eu nunca soube amar a cada um. Eu nunca soube amá-los como indivíduos. Eu nunca soube aceitá-los como feios, fracos e lentos. Tragam-me um doente e não chorarei com ele. Mas me mostrem um hospital e derramarei rios e mares. Eu não sei falar e ouvir um homem, uma mulher ou uma criança. Eu só sei fazer coletivo, massa, povo, conjunto. Sou capaz de ser herói, mas não sou capaz de ser enfermeiro. Sou capaz de ser grande, mas não sou capaz de ser pequeno. Eu nunca dei uma flor. Nunca amei uma pessoa. E tenho amor. Dou desenhos, dou textos, escrevo cartas. Sem contato manual, sem intimidade, sem entregar. Por que desenho, por que escrevo cartas? Minha arte é fruto da minha importância de viver com vocês. Um dia, vou rasgar o papel que escrevo, rasgar o bloco que desenho, rasgar até esse recado covarde e vou me melar e besuntar com vocês, tudo com meu grande beijo. Vocês vão me reconhecer fácil: vou ser o mais feliz de vocês. Henfil"



São Paulo, 11 de abril de 1979.

Mãe,

Não suporto mais a saudade sufocante do meu irmão Betinho. Minha vida segue sem sentido e sem alegrias. Sai um disco do Chico e não consigo me entregar no canto que gostaria de partilhar com ele e com a Maria. O grito de gol fica preso no peito porque me sinto sozinho no Maracanã mais lotado.
Profissionalmente? Estou bem, muito bem. Mas eu queria que eles também se orgulhassem de mim ao receberem o jornal de manhãzinha na porta da casa deles, aqui, como todos. Faltam duas palmas, duas risadas brancas e quentinhas na hora em que as cartas são lidas ou as gracinhas são feitas na "Revista do Henfil".
Perdoa, mãe, mas biscoito de farinha só é gostoso se mastigado olhando nos olhos do irmão que sente na mesma hora a mesma delícia.
A bênção de um dos seus filhos,

Henfil


 
D. Maria,

     Desviaram dinheiro do INPS para a construção da ponte Rio-Niterói e da hidroelétrica de Itaipu. Todo mundo sabe como muitas das grandes empresas particulares e estatais dão calote no INPS.
     Aí, claro, deu esse furão que eles dizem existir porque estamos gastando demais com assistência médica. Mentira! 90% da população brasileira corre do INPS.
     Bão, mas repetiram esta gigantesca mentira mil vezes e agora vão decretar o aumento da nossa contribuição para 10%.
Vamos lá, gente: o povo acaba de decretar um aumento de 10% nas doenças!
     Viva a tuberculose!
     Viva a meningite!
     A bênção do seu perebinha.

     Henfil


                                   biografia:


Henrique de Souza Filho era hemofílico e sempre teve uma saúde bastante delicada, assim como seus dois irmãos, Herbert de Sousa, o Betinho, e Francisco Mário. Além deles, tinha mais cinco irmãs.
Henfil nasceu em Ribeirão das Neves e cresceu na periferia de Belo Horizonte, onde freqüentou um curso superior de Sociologia, que abandonou depois de dois meses.
Foi embalador de queijos, "boy" de agência de publicidade e jornalista, até especializar-se, no início da década de 1960, em ilustração e produção de histórias em quadrinhos.
O início de sua carreira de cartunista e quadrinista foi na Revista Alterosa, de Belo Horizonte, a convite do editor e escritor Robert Dummond, onde nasceram suas personagens mais famosas, "Os Fradinhos". Em 1965, começou a fazer caricatura política para o Diário de Minas. Fez charges esportivas para o Jornal dos Sports do Rio de Janeiro, em 1967, colaborando também nas revistas Visão, Realidade, Placar e O Cruzeiro.
A partir de 1969, fixou-se no semanário Pasquim e no Jornal do Brasil, onde seus personagens atingiram um grande nível de popularidade. Em 1970, lançou a revista Os Fradinhos, com sua marca registrada: um desenho humorístico, crítico e satírico, com personagens tipicamente brasileiros e que retratavam as situações da época.
Após uma década de trabalho no Rio de Janeiro, Henfil mudou-se para Nova York, onde passou dois anos em tratamento de saúde, e escreveu seu livro "Diário de um Cucaracha". De volta ao Brasil, morou algum tempo no Rio e em Natal (RN), retornando novamente ao Rio de Janeiro.
Além das histórias em quadrinhos e cartuns, Henfil realizou a peça de teatro "A Revista do Henfil" (em co-autoria com Oswaldo Mendes), escreveu, dirigiu e atuou no filme "Tanga - Deu no New York Times" e teve uma incursão na televisão com o quadro "TV Homem", do programa "TV Mulher", na Rede Globo.
Como escritor, publicou sete livros entre 1976 e 1984: "Hiroxima, Meu Humor", "Diário de Um Cucaracha", "Dez em Humor" (coletiva), "Diretas Já", "Henfil na China", "Fradim de Libertação" e "Como se Faz Humor Político".
Henfil teve uma atuação marcante nos movimentos políticos e sociais do país, lutando contra a ditadura, pela democratização do país, pela anistia aos presos políticos e pelas Diretas Já. Na história dos quadrinhos no Brasil, renovou o desenho humorístico com seus personagens "Os Fradinhos", o "Capitão Zeferino", a "Graúna", e "Bode Orelana", entre outros.
Devido a uma transfusão de sangue em um hospital público, durante tratamento da hemofilia, contraiu o vírus da Aids e faleceu em 1988, em decorrência da doença.


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