Jorge Bichuetti
Céu estrelado. Luar... Uma brisa suave que acaricia nossa pele, mantendo-a , contudo, calorosa.
Despertei-me com a Lua ladrando com o gato do nosso vizinho. Um bichinho amável e cheio de gracejos. Ela vigia a casa, sua comida e a minha vida.... Com o tempo aprenderá como a vida se transforma e fica leve e alegre, com a nossa vida recheada de amigos....
Não resisti, desperto, comecei a pensar no povo na rua , no norte da África e no oriente médio, lutando por liberdade...
Uma passeata em São Paulo contra a homofobia, pedindo a aprovação do projeto de lei que a torna crime...
E recordando o nosso grande homem das lutas libertárias, Che Guevara; repeti: " há que endurecer-se , porém, sem perder jamais a ternura".
Divagando sob o influxo da lua e do luar, vendo uma multidão de estrelas no céu e meus álamos graciosos com seu bailado tímido, noturnamente tímidos, me perguntei: o que eu sei da ternura?
Ternura é carinho de mão amiga, uma palavra compreensiva e um olhar acolhedor...
Uma flor bela e irradiante, que perfuma o jardim e se doa contente para que os amantes as tenham nas seduções do amor.
Ternura é partilha, um dar-se mansamente...
Uma mãe com seu filho no colo, cantando uma singela cantiga de ninar...
As maria-sem-vergonha se multiplicando e decorando com cores e vida um esquecido chão...
Ternura é , também, a Maria no altar, olhos meigos e maternais, oculta seu brilho para a vela luzir e a fé iluminar; vê sua gente de joelho, lembrando seu filho na cruz, e, emocionada, desce, a estátua fica, ela desce e caminha na vida com a vida fazendo do cotidiano uma litúrgica procissão.
Ternura é cuidar...
A mão secando uma lágrima...
O lenço branco da partida...
Um sorriso cativante, um abraço de irmão...
Suavemente, uma mão cura uma ferida; docemente, uma palavra ressuscita o bom ânimo...
Ternura é companhia e partilha...
O lírio no pântano; o machado perfumado pelo perdão do carvalho...
A lamparina num quarto escuro, e a voz meiga e mansa que adormece com uma poesia e uma história os medos dos nossos meninos...
Ternura é amor...
Um beijo, uma declaração e uma silenciosa compreensão.
Escuta e diálogo, pão dividido e sonhos multiplicados...
Ternura é... Cartola, Cora Coralina, Meireles, Caymmi...
A lua e os luares... A outra Lua, pequena dengosa, que escreve nos livros de filosofia o conceito de ternura com o alfabeto dos seus afagos.
O canto de um passarinho, a beleza das borboletas, o beija-flor...
Uma revoada de andorinha, o pôr-do-sol... O arco-íris...
Ternura é doação e paz.
Francisco, o pobrezinho; Gandhi, Madre Thereza de Calcutá..
Ternura e... gentileza, generosidade e suavidade...
Ternura é... um povo na rua. Anómicos, agora, irmãos...
Ternura é revolução... Caem-se as ditaduras e nascem as flores da liberdade, perfumando as cidades e pintando de azul com um manto de estrelas as terras que antes eram da violência vil e da indignidade institucionalizada.
Amor, amor... o desejo te fabrica, porém, não sobrevives se as mãos da ternura que é a alma dos afetos continuados e plenificados.
Ternura é vida.
Do nascimento à morte, e ela o anjo bendito que encanta os encontros e alimenta a vida pulsante na amizade e na paixão..
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2 comentários:
Estou ainda para encontrar alguém que tenha tanta inspiração para escrever como você tem. Será muito difícil, porque vc, além disso, ainda reúne sensibilidade, inteligência, otimismo, beleza de alma, docilidade, alteridade, luz, emoção, vida e muita vontade de fazer as pessoas felizes. Que lindo, Jorge. Bjsssss
Menina, não me ponha minhoca na cabeça... Creio que os entres que eu busco e alimento, me dão inspiração e força para lutar por ser uma pessoa melhor.
Nossos entres nos subjetivam....
E você me permite encontros que me tornam mais digno.
Abraços, Jorge
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