Jorge Bichuetti
Já é tarde... Grande saudade... A saudade é a expressão da presença na ausência. A sentimos: negatividade. Isto porque não conseguimos afirmar nosso amor para além dos imediatismos do mundo. O amor não conhece distância; nem comporta separação... Ele pulsa, brilha... sempre... Nada o devora ou o maltrata...
Nossos sofrimentos não nascem do amor, originam-se na sede de sermos amados.
O amor floresce, frutifica... Sempre alimenta e encanta...
Nossas carências nos deixam dependentes, imobilizados e paralíticos...
Nada mata o amor... Ele gera vida e vida nova...
Minhas lágrimas? ... não as nego, as amo, por ver nelas a expressão da dor da ausência; porém, não as permito donas do fim.
"Tudo passa, mas o amor permanece"...
A pequena Lua, nos meus pés, se preocupa com a minha fala que poderia me colocar num lugar de loucura, e dos excluídos, lhes roubam os amores... Ela teme... Contudo, não posso negar o que sinto e vejo na força das Mães... Das Mães da Praça de Maio... Com elas, aprendi, que nós somos os únicos que podemos materializar a presença dos ausentes.
Não quero falar da dor e das lágrimas, sem dizer que no horizonte existe uma chama de esperança...
Dialogo com a vida, computando tuas lágrimas e as minhas, e as vendo, dissolvidas pelo sol que nasce da vida de algumas mulheres que da própria dor pariram um novo mundo.
Com elas, aprendi a crer a vida, nos revesses da dor, com a horizonte florescendo um novo dia..
Elas viveram e choraram, clamando justiça e liberdade, presença e convivência com seus amores perdidos nos abismos da opressão e dos limites deste mundo de violência e covardia.
Gritam, na dor que as consomem: um outro mundo é possível...
Com elas aprendi...
***
Um dia, as ouvi cantando: nem um passo atrás... Percebi que descobriram que a avida e a alegria seria possível na caminhada, e não na retaguarda das lembranças do vivido.
Depois, quando, lhes quiseram calar o pranto, com a lei do esquecimento, ouvi: aparição com vida...Não desejavam dinheiro ou recompensa; iriam reencontrar seus filhos na vida na face de cada olhar oprimido, no gemido de cada vida sofrida... Os veriam nos sonhos dos que ousam ir além... Os abraçariam nas vidas dos que nada tem...
Trabalharam , inventaram, resistiram... Sonharam o impossível...
Agora, as vejo, com lágrimas, mas dizendo que ao longo da jornada seus filhos foram seus guias...
Os vêem no céu, estrelas do infinito; e, no chão, em cada lágrima secada , em cada luta vivida, em cada sonho partilhado...
E afirmam, iluminadas: o outro sou eu...
Uma longa jornada de fé e poesia: vida partilhada pelo alvorecer de um novo dia...
***
O tempo passou... Nossas lágrimas persistem. Embora, não seja pequeno o tamanho de nossas alegrias.
Com elas , aprendi a viver... Tecendo com minhas lágrimas a força da luta numa caminhada por um novo dia.
Hoje, quando me perguntam de teorias sobre os meus sonhos e utopias; não vou a biblioteca, repito com as Mães da Praça de Maio: revolução se faz, fazendo; revolução, se faz partilhando; e revolução se faz , se dando...
Elas ressuscitaram seus filhos nos filhos da vida pela mundo consumidos...
E lutam por um novo mundo, com coragem e ousadia...
***
Não sou forte nem gigante. Sou um menino na vida...
Porém, sou guerreiro, pois com elas aprendi a vier a minha vida com a ética e sonhos, valentia e utopia...
O resto é o silêncio...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário