quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

ESTES MOÇOS: VIDAS SEM RUMO...

                                                  Jorge Bichuetti

Estes moços... Pobres moços...
Da juventude transviada  à juventude robotizada, consumista e alienada dos dias de hoje, sempre, tivemos um olhar preconceituoso e estigmatizante sobre os jovens...
Corpos musculosos ou anoréxicos, pobreza existencial, futilidades consumismo, teconodependentes, narcisistas  e racistas, homofóbicos...
Nunca perguntamos sobre as potências e encantos da juventude, a negamos como afirmação de vida e sobrecodificamos segundo os padrões de vida que socialmente estão instituídos, na esquerda e na direita, nos intelectuais e nos homens adultos comuns...
Nas controvérsias, apelamos para as estatísticas, esquecidos de Tarde que afirmava estar na minoria os movimentos de mudança e vida nova numa sociedade.
Se só vemos o que não funciona ou funciona perpetuando o sistema, diremos que eles , a juventude, estão capturados pela globalização neoliberal excludente.
E  nós, não?...
Aqui, pensaremos nas potências, nas desterritorializações, nos espaços lisos e nas virtualidades presentes na juventude.
Se temos o ideal de bem  no homem cordial, isto é, passivo e submisso, cabisbaixo e simpático, diabolizaremos a juventude, nela encontrando somente, alienação e perversão.
Todavia, se cremos no homem singular e de devires, a juventude se revelará um território da vida, fértil e florido.
Compõem a vida psíquica e social do jovem, expressa ou reprimida: a rebeldia; a magia da fantasia e das utopias;  uma sexualidade  voraz e indefinida, difusa e inundante; um espírito contestatório; a vida grupal, coletivos e tribos; uma quebra da gramática e da linguagem oficial com a invenção de uma língua menor; e desejo-vontade de protagonismo.
Juventude é um momento de crise e desterritorialização, espaço alisado e evitação dos estriamentos dominantes, e um fabuloso vínculo dionísico com a alegria.
Longe dos preconceitos e da marginalização discriminatória, poderíamos ver nela, a juventude, um momento profícuo para o devir, a singularização, a rizomatização do homem e do socius, e das próprias mudanças sociais.
O sistema captura...
Nós outros, ameados, segregamos e inibimos, suprimimos a força viril da potência e a vitalidade do novo, e os colonizamos para a maturidade cinzenta e triste, de identidade angustiada e vida infeliz.
O que pode um jovem?
Deixemo-los criar, experimentar, desbravar novos horizontes... vier sua juventude produzindo-se uma novidade, com seus desejos e sonhos.
Toda vivência de fronteira, de limite, de intensidade e velocidade maximizadas, são situações de risco.
Tememos que sofram com seus erros e equívocos, com suas quedas e desvarios... Amorosos, cuidamos...
Contudo, frequentemente, cuidamos , negando a singularidade do ser jovem; os tornamos, precocemente, maduros na incubadora do nosso caloroso e incondicional amor,. e nesta incubadora, sem perceber ou conscientemente, os formatamos para que nos espelhem, sem escutar, permitir e possibilitar que emerjam, no cenário da vida, seus desejos e sonhos, o adulto que eles gostariam e poderiam inventar...
Nem lhes contamos que olhamos para a nossa própria juventude com nostalgia, e que no escuro da noite, choramos, ouvindo a velha canção que nos diz que vivemos e morremos  "como nossos pais."...
Cuidamos, libertando... Não negociemos, em nome  do amor e do cuidado, morte por morte..

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