Jorge Bichuetti
A loucura não é um espaço de viagens paradisíacas onde o homem mergulha num abstrato cósmico. é vida singular, o diferente... Um modo de funcionar liberto da racionalidade lógica, da razão técnica-instrumental dominante, é desrazão...
Não se a vivencia como uma celestial aventura, pois tudo e todos funcionam excluindo-a e marginalizando-a, como se ela fosse um modo de vida ameaçador... E é , pois a racionalidade científica se hegemonizou, excomungando os outros modos de ver e viver a vida: o mítico, a magia, os sonhos, as utopias, a poesia, e o delírio.
A loucura é no cotidiano da clínica e da vida a " surra que o simulacro levou do sistema" ( Baremblitt).
Assim, é sofrimento, vida dilacerada e martirizada... Corpo estropiado...
Contudo, nela, persiste valiosas expressões da vida , sendo ela, um espaço de aprendizagem, para nós, formatados no cinzento do pragmatismo, da lógica concreta e positiva, do mundo de vendedores e vencedores.
O CAPS-Maria Boneca, Centro de Atenção Psicossocial, tem sido para mim uma universidade viva de novos modos do existir.
A maturidade e a seriedade formal dos homens normais não sabem mais usar, desfrutar e potencializar:
- a expontaneidade;
- a liberdade;
- a ternura;
- a magia;
- os sonhos;
- a solidariedade;
- o desejo, fluxo permanente e difuso de afetividade e produção;
- o brincar;
- o outrar-se;
- e o delirar...
O homem comum se procura estas expressões só as encontra nos alucinógenos e nos êxtases místicos..
A loucura flui e dilui-se, solidifica-se e metamorfoseia-se com altíssima velocidade.
É a máxima desterrorialização produzida pelo modo de funcionar que atinge seus cumes no capitalismo: "tudo que sólido desmancha no ar"...
Ela vive e pulsa na fronteiras...
Sítios de emergentes devires, mas, também, zona de alto destrutividade, já que tudo e todos barram um ir além... A produção inventiva de linhas de vida, para além da fronteira, checa e aniquila o funcionamento do capitalismo, como modo de vida.
Cuidar, assim, é acolher, sustentar, partilhar, con-viver... Criar espaços de vida libertos onde eles possam amar e produzir, sonhar e sorrir, brincar e cantar, trocar e voar...
Não trata-se de segregá-los, inibi-los, suprimi-los... É preciso fazer caber, a loucura, na cultura e na sociedade.
Eles são capítulos vivos de um novo mundo e um de novo tempo.
Tempo e mundo onde real e virtual, realidade e sonhos são sejam experiências dicotómicas e excludentes...
Amemo-los, pois alto é ainda o preço que pagam os ousam sonhar...
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
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