Jorge Bichuetti
Vivemos numa sociedade de produtividade, ocupação máxima e resolutividade...
Todo saber, técnico e intelectual, é seduzido pela ideia de que somos retratados no imediatismo dos resultados.
Somos um povo sem tempo...
Apressados e tensos, exigimos de nós e dos outros, que se resolvam e que resolvam seus problemas, magicamente, numa fração do segundo.
Flores já... Se a primavera não chega a tempo, trocamos as flores do chão adubado pelas indolores flores artificiais...
A hora é agora... Dita o mercado e repete toda sociedade.
Esquecemos que " a abelha fazendo o mel, vale o tempo que não voou"...
Sofremos, mas, já estamos tão condicionados a esta lógica, nem percebemos nosso stress e nossas angústias.
Corremos... Realizamos... Produzimos... Acumulamos...
Depois, um dia qualquer, acordamos... deprimidos, com fibromialgia, hipertensos, ansiosos e insones, com angina, cheios de dores e desi9lididos. Fracassamos...
Nem sempre um dor, uma limitação, um mal-estar é uma revelação de um fracasso. Frequentemente, é um grito do corpo...
O corpo fala... Fala no seu idioma.
Relembramos , aqui, o sugestivo título do livro de Barry Stevens: "Não apresse o rio ( ele corre sozinho)".
Estudando os processos do devir, Deleuze-Guattari nos revelam que na intensidade e na lentidão, igualmente, o corpo se alisa e desteritorializado se fertiliza para inovadores e disruptivos devires.
A cultura do tempo mínimo é a mesma lógica que Marcuse encontrou no processo de genitalização da sexualidade, onde a função era fazê-lo disponível e submisso aos imperativos do Capital, da mais-valia, da alienação e da necessidade de rendimento máximo, inerente ao modo de produção capitalística.
Um outro tempo...
Não o tempo do rio que mansamente percorre o espaço, fertilizando os caminhos , e carregando de cada território um legado: sozinho, na sua velocidade , ele chega e abraça o mar...
Educamos. Dialogamos. Lemos. Ouvimos. Falamos .Convivemos. Amamos. Trabalhamos. Divertimo-nos...
Tudo, freneticamente... nunca auscultamos os corpos e indagando sobre o meu tempo e a minha velocidade...
Muito menos, aferimos o tempo e a velocidade do outro.
Queremos resultados...
Crescimento, amadurecimento, mudança, riqueza interior, felicidade íntima, elaboração interna: recheiam nossos discursos... Aceitamo-los, deste que não alterem a nossa frenética vida e nossa pressão desumana sobre o outro.
Paremos um segundo... Meditemos...
Possivelmente, ouviremos de nós mesmos uma argumentação poderosa: é a vida, são os novos tempos...
E velho Marx, como se fosse, agora, um curandeiro, diria, neste diálogo solitário: sim, e a vida do capital.... Porém, cuidado, pois "tudo que é sólido desmancha no ar".
Somos descartáveis... Tudo é descartável pela lógica do ter sobre o ser, do acumular sobre o sobreviver e o ser feliz.
Não apresse o rio, ele corre sozinho...
Preciosa lição...Oportuno aviso...
Canta a vida: "o tempo não para"...
Contudo, se não cuidamos de nós, nem dos outros que cruzam os nossos caminhos, ele, que não para, passará, nos deixando nas agônicas margens de um vida perdida...
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