sábado, 19 de fevereiro de 2011

HOMOFOBIA: CARTA A UM PAI

                                                                Jorge Bichuetti

                     Prezado Sr..

Se escrevo, faço-o , pois, me preocupei com o que escutei, ouvindo as lágrimas do seu filho.
Ele sofre, profundamente; se vê rejeitado e teme que consiga sobreviver sem o seu amor.
Você me encaminhou, desejando que algum medicamento o curasse,; no entanto, ele não está adoecido, somente é diferente, é singular...
Sei que ele se dilacera, pois não gostaria de lhe contrariar.
E você sente vontade de dizer e isto está no ar que o preferia um bandido, um ladrão, um corrupto, um drogado de sarjeta, do que ter na própria família um degenerado.
O queria homem...
E ele o é: um homem digno, educado, sensível, amável, respeitoso e trabalhador...
Na sua mente, contudo, ele é só uma bicha, um mariquinha, uma mulherzinha; e o preconceito o devora, impedindo de vê-lo na sua dignidade humana.
A opção sexual não impede a vida familiar e a dignidade. Aliás, meu senhor, são os heterossexuais que acostumam, com mais frequência, a relegarem seus pais envelhecidos à solidão de um asilo frio e aprisionaste.
A maioria dos pais  sofrem e sofrem por dois motivos: primeiro, porque não querem descobrir que a vida é feita de diversidade e que as pessoas não são iguais; e segundo, por que temem os sofrimentos que seus filhos - diferentes e singulares no modo de amar, venham a sofrer o preconceito, a discriminação e marginalização do mundo cruel.
Como poderá enfrentar o mundo se  seu próprio pai o abandona, e o rejeita?
Não o jogue fora...
O mundo é hipócrita: atento pessoas infelizes, e entre elas existem infelizes de todos os grupos sociais e de todas as opções sexuais.
Amar outra pessoa do mesmo sexo não é pecado, não é doença, não é crime, não é perversão...
Somos todos diferentes.
Inicie, recordando que o verdadeiro amor é incondicional... Ele é e sempre será seu filho.
Antigamente, pensava-se que maioria definia a normalidade, tola ilusão... A maioria é que move os mecanismos da guerra e da violência, da desigualdade e da exclusão.
O moralismo antiquado atrofia a razão. Pense... não o que se tem como práticas de prazer no sexo que define a dignidade, a honestidade, os valores de homem de bem...
Ajude-o a ser feliz... Aceite-o como ele é... e dialogue, buscando entendê-lo na sua caminhada de experiências como pessoa. Como pessoa que estuda, trabalha, se diverte, convive em família e ama...
Toda forma de amor pode ser fonte de construção de vida potente e feliz.
Não seja fascista, nem se sinta no direito de invadi-lo na sua intimidade.
Veja-o como filho, e recorde que nem você, nem o resto da dita maioria desnuda a vida íntima.
O amor não fronteiras...
Nem para ele, que se sente atraído por pessoas do mesmo sexo; nem para você que pai... um pai que ama o filho que ele determina como ideal, ama a si mesmo, projetando suas frustrações e sua vida angustiado.
Você o queria um garanhão,um conquistador, um galã sedutor, ainda caminhasse deixando ao longo do caminho mulheres destruídas e desiludidas pela sua incapacidade de amar.
Quero dar-lhe a opinião do ofício de médico que vivencio coo cuidado de vida e vida humana: homossexualidade não é doença nem perversão, contudo, homofobia é crime e crime cometido aniquilando vidas, inclusive, inconscientente, as vidas que amamos...
Não perca tempo.
Já tive que atender muitos pais que só descobriram o direito a diversidade e à diferença, depois, que velaram com seu remorso a perdas de seus filhos... Só, então, reconhecem o próprio egoísmo e o crime cometido: eles, sim, não souberam amar...
Pense... Reflita...
A vida passa, e não nos espera.
O amor prevalece para os que não fogem do próprio sentimento, na verdadeira mariquice de se acovardar-se diante do que pensa o mundo que o rodeia...
                                    Um meu abraço e minha espera com fé na vida e na seu amor de pai,
                                    Carinhosamente,
                                                 J B

8 comentários:

Tânia Marques disse...

Palavras de conforto a um pai formatado pelo sistema, esquadrinhado pelo paradigma de uma vida fascista. A ditadura do ideal paterno sufocando a sensibilidade do filho, só para que ele (o filho)seja "aceito" socialmente e, talvez, para que esse pai tente livrar-se da culpa que provavelmente sinta em função da homossexualidade do filho... Vê-se isso diariamente, em toda a parte,a homofobia, a não-aceitação do outro "diferente". Jorge, como sempre, gostei muito do teu texto. Só não arriscaria dizer que a homossexualidade é uma "opção sexual", como a maioria das pessoas entende, porque, para mim, as forças desejantes de prazer são inerentes ao ser, não chegam a passar pela lógica da razão para que ele venha a optar pelo homossexualismo, embora ele possa fazer isso. Creio que a pessoa não sai optando: Ah! hoje eu vou gostar de homem, Ah! hoje eu vou gostar de mulher! É muito mais forte, é sem controle, a pessoa nasce e vai sentindo desejo, sentindo-se atraída por alguém do mesmo sexo, mas não consegue estabelecer um controle mental sobre isso,não sabe o porquê, por isso mesmo muitos vivem escondidos "dentro do armário", mas não deixam de exercer a sua sexualidade como um devir potência de vida. Aqui, na minha escola, é comum os alunos falarem sobre a homossexualidade como sendo uma doença. Como também dou aulas de Ensino Religioso, aproveito todas as brechas possíveis para discutir os temas pertinentes a fase em que eles estão vivendo, aborto, homossexualidade, o papel da religião. Por falar nisso, considero-me Deísta, mas atualmente não estou vinculada a nenhuma religião. Antes, de 1993 a 2005, estudei a Doutrina Espírita sistematicamente, na Casa Amor e Caridade, cumprindo fielmente todos os "preceitos", digamos,estabelecidos. Eu fazia o Evangelho no Lar, não perdia nenhum encontro semanal para o estudo, muito menos as sessões e passes. Esse post gerou vários agenciamentos. Beijo grande.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, sua compreensão foi a minha durante a escrita, eu me vi tendo que ampliar estudos e escutas... Não gosto da palavra opção para esta probemática, senti, várias vezes, o desejo de mudar para orientação; pórem, como domino mal a temátiva, escrevi... Porque é fato concreto de um pessoa que os amigos vão agenciar para acessar o blog... No trabalho, já é diferente; tive um pai evangélico e que continua evangélico, mas que aceita a homossexualidade, mais que próprio filho.
O que fascina nos blogs é que texto pode já de imediato ter ramificações...
O rizoma esquizoanalítico que só era proposição; hoje, fazemos no concreto... na vida...
Grande abraço com carinho e ternura, Jorge

Anne M. Moor disse...

Jorge

Que belo texto que tanta gente deveria ler. Alguns o lerão (se qusierem) pq o vou encaminhar para alguns "amigos" que me cansam com suas manifestações idiotas!!

É tão triste quando um próprio pai não consegue, pela força da sociedade em que viveu, aceitar e amar seu filho. PQP (desculpa) que sociedade é essa, que gente é essa que se dá o direito de julgar o outro dessa maneira!

beijos provocados e indignados :-)
Anne

Tânia Marques disse...

Adoro você e o que desperta em meu ser enquanto eu aprendiz da vida. Beijos

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, na vida e na clínica, a dor dos pais que para mim é difícil porque se torna dor de opressor, me leva a trabalhos difíceis: alguns já mandei a PQP e ameacei com a promotoria; já a maioria quando descobrem o direito a liberdade, tornam-se mais revolucionários que os próprios filhos... Aí, é lindo... O pior que é uma parte que se mostra insensível... Intocável, silêncio perverso.
Vamos trabalhando e incluindo a diferença e a liberdade na pauta do cotidiano de todos... Isto me encanta e me faz sentir-me gente.
Abraços comternura e caerinho. Jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, aprendemos no entre das trocas, eu lhe sou muito grato pelo quanto já aprendi... Viver é navegar... O perigoso é o não-viver... Estamos sonhando, semeando... Um dia, florescerá...
abraços, Jorge

Tânia Marques disse...

Postei no blog: http://wwwumanovaeticahumana.blogspot.com
Espero que gostes também.
Beijo grande!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, verei agorae amarei; estive dormindo todo dia: eu que me imaginava incapaz de cansar com um curso, voltei nocauteado.
Mas, com alegria, verei e amarei...
Abraços com alegria e ternura, Jorge