Jorge Bichuetti
A chuva cai mansa e suave... Tamborila uma terna cantiga de ninar... A Lua me alimentou com seus carinhos e se foi: adormecei feito um anjo, sono povoado de paz...
A chuva e seu sereno cantar me contagiou... Lembranças, fotos perdidas na memória.
Quando criança tive medo da loucura... Me parecia um destino cruel: sentia compaixão e carinho pelos loucos, mas seus olhos me contavam histórias de dores lacinantese uma profunda solidão.
Depois, jovem, mudei: sentia os normais extremamente infeliz... Quis a loucura.
Hoje, cuido... e amo o meu trabalho, o faço com paixão.
Pensando, no silêncio da manã, com chuva cantarolando um acochegante fundo musical, como se passara estas mudanças.
E via , na minha vida, a luta entre nossos desejos e sonhos e a pressão do social.
A loucura é um figura maldita para o social da exclusão. Ontem, os horrores de um hospício; hoje, o olhar e um lugar de desvalia...
Paralelo, a vida na potêncida de ousadia dos que sonham. criando os dispositivosda Reforma Psiquiátrica que são ilhotas de solidariedade e ternura, liberdade e amor, incrustadas no próprio socius.
O mundo da desrazão não é funcional para um sistema que necessita da lógica de produção e consumo, fragmentação individualista e espírito competitivo.. Igualmente, os sonhos, as utopias, o místico, a magia, a arte e a poesia estão na contramão...
Para o capitalismo é fundamental a manutenção da hegemonia da racionalidade técnicoo-instrumental.
A loucura foge, escapa... Se abre para o virtual, para o novo: é uma singularidade radical, o diferente...
A normalidade é o mundo padronizado, robotizado, cinzento e triste...
A normalidade é a cristalização das repetições e a negação da potêncida do devir.
Os portadores de sofrimento mental são excluidose na sua exclusão se dá como se fossem, eles, os..aniquiladores da vida.
Desta vida falida... De violência e desamor, de oprimidose explorados, de vida negada e de alegrias vigiadas.
Pichón-Riviere diz que se tornaram nosso bode expiatório. Porta-voz de uma insatisfação e loucura coletiva que quanto vista é negada, por medo da própria loucura que carregamos reprimida em nós mesmos.
E é este emergente vira dor e desta dor cuidamos...
Cuidamos, incluindo; fazendo-os caber na sociedadee na cultura.
Não se cuida sem que neste processo descubramos a potência criativa da liberdade e do novo, da diferença e do devir.
Crescemos, cuidando... Descobrimos os encantos dos desejos e dos sonhos...
Re-nascemos utopia: vida e luta, caminho e produção...
Um outro mundo é possível e necessário....
Um mundo de alegria e com-paixão, ousadia e prudência, de solidariedade e cidadania, de poesia e liberdade, de amizade e devir...
O sonho não acabou: assim fala a loucura todos os dias...
E como disse o velho passarinheiro, Nietzsche: "Só quem suporta e o caos e o frenesi é capaz de se engravidar de uma estrela bailarina."
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
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6 comentários:
Jorge, bom dia. Dos gardenias para ti e un beso.
Marta
Marta, um dia maravilhoso, pois começa com o seu carinho.
Pensei em você: escrevia sobre desejo, produção desejante e conectei com CsO, porém, não atrevi na abordagem... Irei pensar, ler..
Besos con cariño y ternura, Jorge
Escreva Jorge. Trace linhas. O Daniel fez ótimos, excelentes comentários. Não pense muito, vc sabe muito, é só mandar ver. Mas sem compromisso. Tudo na santa boa inspiração, senão não vale.
beijo
M
Jorge, tu és o Poeta dos Excluídos. Isso me toca muito, pois sempre parti para a defesa deles, aliás, de mim mesma, em muitas circuntâncias, mas principalmente por discriminações econômicas. Tenho muitas em te ler. Jorge, que tece a cada manhã um dia diferente do outro. Jorge, que vê a vida com lentes coloridas e enxerga a todos, por mais longe que estejam (distância, exclusão). Jorge, iluminado, uma pessoa com muita luz e amor no coração, que cultiva o encantamento do mundo e da vida! Te adooooro!
Marta, irei pouco a pouco tentando entender o CsO e escreveri com a certeza dos amigos que multiplicando, bifurcam o diminuto e o maximizam...
Abraços com ternura, Jorge
Tânia, nada seria sem os entres que são feitos por vocês, e que me possibilitam lutar e sonhar por um novo alvorecer;
com carinho, um milhão de beijos, Jorge
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