A VASTIDÃO DA MULTIPLICIDADE
Jorge Bichuetti
No sereno da madrugada, eu,
um livro e a luz de uma vela,
vagamos entre nuvens díafanas,
povoadas de sonhos e poesia...
Não ausculto a minha voz,
ela se mescla e se multiplica,
um coro canta e, nele, estou
numa rede de anjos e alquimistas...
A solidão da noite se dilui,
uma multiddão me faz companhia;
e outrors eus nascem pulsantes
do meu eu que se fertiliza e procria...
Assim, contemplo a noite escura,
viajante dos espaços siderais;
um uno perdido, agora, uma multiplicidade:
páginas, vidas, estrelas e outras galáxias...
EU
Jorge Bichuetti
O espelho não revela
meus eus de mim escondidos;
os procuro em vão,
eles escapam pelas janelas
da minha própria vida de ilusões...
E aparecem sorridentes na minha casa,
quando os vigias da lucidez adormecem,
e, eles, então, de mim se possam
e eu de mim me perco,
me torno multidão
na vida se bifurcando sem magia
ou transfiguração...
RODOPIOS DO EU...
Jorge Bichuetti
Este ranzinzo não sou eu,
ele veio do palhaço que fui
e, teimoso, deixei partir...
Este fascista nada tem de mim,
ele surgiu do nômade errante
que exilei para longe, de mim distante...
Estes eus perdidos,
reprimidos e expedidos,
deixaram um espaço vazio
onde no desleixo do meu sossego
cresceram minhas outras faces,
eivadas de ervas daninhas...
Ah! que saudade de mim mesmo,
dos outros eus, covardemente,
amputados;
hei de lutar, bravamente,
e livre, com eles, voarei,
com eles, finalmente, ressuscitados...
TUAS FACES
Jorge Bichuetti
Esta rosa no cabelo desperta
uma cigana sensual e trigueira;
este terno incolor desata
e revigora a dura lorde senhora
de autoritário vigor e insensível pudor.
Este teu posto de comando
estala e faz surgir
uma rainha inclemente
e uma déspota demente...
Já tuas mãos esculpindo
vasos, flores, e aves belas,
crepitam e ressuscitam teu olhar
meigo e terno, uma fada da floresta...
ANDARILHO
Jorge Bichuetti
Travessia. Vida de errância,
nos jogos da existência,
onde o rio se renova
e o homem se reinventa...
Terras novas. Horizontes...
Colho flores no caminho
e, embora, viva sem ninho,
meu destino é sempre voar...
Cada porto, um novo amor,
em cada flor, uma cidadela;
caminhante indomável,
sigo, livre, num barco sem velas...
Na estrada, não tenho nome,
sou a semente e o fruto;
aprendiz de feiticeiro,
meu ofício é, aos sonhos, vida, dar...
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
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6 comentários:
Rodopios do eu! Belíssimo! Todo poeta acaba registrando o seu estado de alma, digamos, através da sua escrita, ele descarregada suas subjetivações, seus sonhos, sua visão de mundo e, principalmente, sua bagagem de experiências vividas enfeitada de sentimentos e emoções. É como se o poeta congelasse no poema aquele estado de espírito do momento em que as ideias fluem, libertando-o de suas frustrações, de seus medos, etc. Na verdade, por meio do texto, ele registra a sua voz, o seu eu-lírico, podemos fazer uma analogia à catarse, que libera as energias contidas com muita emoção e proporcionando um forte prazer estético nos seus leitores. Beijossss
Lindos todos Jorge! A tua insônia é nosso delírio poético :-)
beijos
Anne
Lindos poemas!!!!
Tânia, sinto que o que falas, vivo, escrevendo... Catarse e criação, exposição visceral e devires me agenciam como se n entres se montassem num contexto de vida e paixão, paixão pela vida e vida pela paixão...
Um texto-comentário, belo, para mim com muitas reflexões que me afetam e que me levarão a algumas viaggens criativas,
abraços com ternura, Jorge
Anne, sim, vou tecendo na insônia afetose expressões; porém, vejo que crio no entre que tecemos na nossa relação de amizade, cumplicidade alegria -vida com-paixão,
Abraços, Jorge
Clara, obrigado pelo seu carinho, façamos da poesia nossa companhia e novos horizontes...
abraços, Jorge
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