segunda-feira, 19 de setembro de 2011

BONS ENCONTROS: A POÉTICA DE GUILHERME DE ALMEIDA

      Essa que eu hei de amar…
                     Guilherme de Almeida

Essa que eu hei de amar perdidamente um dia

será tão loura, e clara, e vagarosa, e bela,
que eu pensarei que é o sol que vem, pela janela,
trazer luz e calor a essa alma escura e fria.


E quando ela passar, tudo o que eu não sentia

da vida há de acordar no coração, que vela…
E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela
como sombra feliz… — Tudo isso eu me dizia,


quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro,

e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro
do poente, me dizia adeus, como um sol triste…


E falou-me de longe: "Eu passei a teu lado,

mas ias tão perdido em teu sonho dourado,
meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!"


                         Haicai
                  Guilherme de Almeida


Infância


Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se "Agora".


Cigarra


Diamante. Vidraça.
Arisca, áspera asa risca
o ar. E brilha. E passa.


2 comentários:

Concha Rousia disse...

Belos haicais, vou deixar um meu, por me vir agora a cabeça :) adoro haicai:

Sobre a vidraça
descem as frias gotas
dentro arde o lume

Concha Rousia

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Concha e o teu é precioso, belíssimo; abs ternos, jorge