sábado, 12 de fevereiro de 2011

BONS ENCONTROS: MARTHA MEDEIROS...

                                       CUIDANDO DE SI
                                                         Jorge Bichuetti

Acho a maior graça. Tomate previne isso,cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas não exagere...

Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos.

Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde.

Prazer faz muito bem.
Dormir me deixa 0 km.
Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha.
Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos.
Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro, volto cheio de idéias.
Brigar me provoca arritmia cardíaca.
Ver pessoas tendo acessos de estupidez me
embrulha o estômago.
Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano.
E telejornais... os médicos deveriam proibir - como doem!
Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo,
faz muito bem! Você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada.
Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde!
E passar o resto do dia sem coragem para pedir
desculpas, pior ainda!
Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou mussarela que previna.
Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau!
Cinema é melhor pra saúde do que pipoca!
Conversa é melhor do que piada.
Exercício é melhor do que cirurgia.
Humor é melhor do que rancor.
Amigos são melhores do que gente influente.
Economia é melhor do que dívida.
Pergunta é melhor do que dúvida.
Sonhar é melhor do que nada!




A Alegria na Tristeza                         MARTHA MEDEIROS
O título desse texto na verdade não é meu, e sim de um poema do uruguaio Mario Benedetti. No original, chama-se "Alegría de la tristeza" e está no livro "La vida ese paréntesis" que, até onde sei, permanece inédito no Brasil.

O poema diz que a gente pode entristecer-se por vários motivos ou por nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la.

Pode parecer confuso mas é um alento. Olhe para o lado: estamos vivendo numa era em que pessoas matam em briga de trânsito, matam por um boné, matam para se divertir. Além disso, as pessoas estão sem dinheiro. Quem tem emprego, segura. Quem não tem, procura. Os que possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de sexo no mercado. E a gente corre pra caramba, é escravo do relógio, não consegue mais ficar deitado numa rede, lendo um livro, ouvindo música. Há tanta coisa pra fazer que resta pouco tempo pra sentir.

Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia. Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é conjugado pra fora.

Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta. Fazer é muito barulhento.

Sentir é um retiro, fazer é uma festa. O sentir não pode ser escutado, apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são necessários, mas só o fazer rende grana, contatos, diplomas, convites, aquisições. Até parece que sentir não serve para subir na vida.

Uma pessoa triste é evitada. Não cabe no mundo da propaganda dos cremes dentais, dos pagodes, dos carnavais. Tristeza parece praga, lepra, doença contagiosa, um estacionamento proibido. Ok, tristeza não faz realmente bem pra saúde, mas a introspecção é um recuo providencial, pois é quando silenciamos que melhor conversamos com nossos botões. E dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba saindo também, dando espaço para uma alegria nova e revitalizada. Triste é não sentir nada.
















" Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância, mas que precisa também sair de dentro da gente. "
                                                                        MARTHA MEDEIROS

7 comentários:

Marta Rezende disse...

Aquele que não aprende a viver em paz com a sua solidão vira um poço de mágoa, um rosário de lamentação.
Vão aí umas palavrinhas mágicas do Deleuze no ABCDário que é um ABCDiário. Sobre o A - Alegria

“Vivemos num mundo desagradavel, onde não somente as pessoas mas também os poderes estabelecidos têm interesse em nos comunicar afectos tristes. A tristeza, os afectos tristes, são todos aqueles que diminuem a nossa potência de agir. Os poderes estabelecidos precisam das nossas tristezas para fazer de nós escravos. O tirano, o padre, os ladrões de almas, necessitam de nos persuadir de que a vida é dura e pesada. Os poderes precisam menos de nos reprimir do que de nos angustiar, ou como diz Virilio, de administrar e organizar nossos pequenos e íntimos terrores. A longa lamentação universal sobre a vida: a falta-de-ser que é a vida… podemos dizer “dancemos”, que nem por isso ficamos alegres. Podemos dizer “que desgraça é a morte”, mas era preciso que tivéssemos vivido para termos algo a perder. Os doentes, tanto da alma como do corpo, não nos darão descanso, são vampiros, enquanto não nos tiverem comunicado a sua neurose e a sua angústia, a sua querida castração, o ressentimento contra a vida, o seu imundo contágio.

Tudo é uma questão de sangue. Não é fácil ser um homem livre: fugir da peste, organizar os encontros, aumentar a potência de agir, afectar-se de alegria, multiplicar os afectos que exprimem ou encerram o máximo de afirmação. Fazer do corpo uma potência que não se reduz ao organismo, fazer do pensamento uma potEncia que não se reduz à consciência…..”

beijo, Jorge. Tinha escrito outras coisas, mas na hora de mandar perdi. Volto a minha mesa. Um dia de cálculo pela frente. O cálculo da diferença. Ontem andei entendedno melhor as colocadas de Deleuze sobre o Cálculo em Repetição e Diferença. É pela Filosofia que consigo chegar um pouco na Matemática, um ser estranho para mim essa tal de Matemática. Um devir. Um virtual. Uma tarefa a ser realizada.

beijo
M

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Marta, Marta, não sei se a dor necessita ser glorificada, como me parece ser, muitas vezes; diferente, de a vê-la como uma situação caosmótica: caos com virtualidades a serem atualizadas. O velho -Espinosa- pra mim prevaledade de que negando-a, buscásesemos nossas paixões alegres.
Vale , para mim, quando a aceito como inerente à minha humanidade que quero em todos os níveis, linhas e fluxos, superá-la, no individual e no socius...
Como não dormi bem, fiz esta postagem da Martha- com H - para aliviar, imaginava encontrar seus poemetos eróticos, irónicos e audazes - porém, assim, vai se dando as coisas.
Para mim quando Deleuze elogia a doença e Negri, o envelhecimento, falam da raspagem do corpo fálico... não por um viés de resignação, culpa e ressentimento, mas pela virtualidade do CsO, toda vez que algo ocassiona uma grande desteritorialização.
abraços, amiga, vamos refletindo.
Beijos, Jorge

Marta Rezende disse...

Um poeminnnnnnnnnnnnha da Marta, sem H, erótico, pero no fálico:

Seu desejo, meu prazer.
Meu prazer, seu desejo.
E vice-verso.

beijin, queria dar mesmo esse beijin n´ocê. n´ocê na nuca. de verdade. tête a tête.

Marta Rezende disse...

Havia mandado isso. Tem dado pau direto nas minhas postagens. Repito caso não tenha chegado o poeminnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnha da Marta sem H.


Seu desejo, meu melhor prazer.
Meu prazer, seu melhor desejo.
E vice-verso.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Querida, ela se desviou do caminho das safadezas.... É a vida , e o que é , diga, lá...
abraços, Jorge

Marta Rezende disse...

Digo sim, Jorge, digo UMA coisa, não A coisa. Digo que vc tem essa bonita mania de pensar sobre mim. Solitária. Boneca. Flor no deserto. Desvio das safadezas. É assim, mais ou menos. Eu sei, tem também aquele papo da guerreira. Adoro ver seus julgos. Ora Dionísio ora Apolo. Ora ora.
Não publique isso, Jorgito. Preservemos um pouco de organismo para uma nova Aurora. Orora.
Inté. Vou desligar um computador por uns dias. Intempestiva! Verdadeiramente intempestiva.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Mara, me desculpe, mas eu publico, antes de ler no painel...
Não julguei nada: por favor, pense...
Intempestivo, sim, todos devíamos ser, não a ponto de não ver que um amigo somente falou de SIIIII e não de você.
Abraços, lhe adoro, Jorge