sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

CORPO E CORAÇÃO

                                                             Jorge Bichuetti

Dissociamos corpo e coração, como se fossemos um duplo, diverso e incomunicável...
Os desejos são do corpo; os amores do coração...
E a vida não se fragmenta, é uma; e, isto, aumenta nossas tensões.
Não percebemos, assim: vemos os instintos carnais no corpo e as emoções celestiais no coração.
Somos dicotómicos... enamorados  indecisos  do que por natureza já é uno...
Na clínica, comumente, nos vemos, retratos no discurso de dor do outro:
- Não quero, mas não suporto a separação;
- Amo, mas nossos corpos não se completam;
- Desejo estar livre, mas meu corpo me mantém prisioneiro;
- Não somos mais felizes no sexo, mas o meu coração não me me permite pensar numa separação....
Corpo e coração são, assim, aparelhos da vida, distintos e autónomos?
Corpo e coração são veículos de uma subjetividade.... Deveriam ser sintonizados; se não são, algo acontece que nos leva a perpetuar ou a bloquear um impulso da vida...  A vida nem sempre emerge como vida... A morte, também, aparece travestida... com complexos, bloqueios, repetições... Não é um grito de vida, são os sussurros da autodestruição... Sorrateiros, penetram e nos envolvem, dando credibilidade a desejos que , em si, são a própria negção da vida, uma aposta de ruína...um corpo no ar, lançado ao chão...
Pode o amor causar tanta dor e morte?
Não nos vinculamos, tão-somente , pela magia da sedução.
Transportamos em nós mesmos forças construtivas e destrutivas.
Não, necessariamente, procuramos, no amor, vida.
O que desejamos no e do amor?
Partilha, afeto e cuidado, cumplicidade, companhia, generosidade, ternura e suavidade...
Ou, adrenalina, explosão, tensão, realce, palco, triangulação, objeto, adereço e apêndice...
Amor é doação, vínculo, correspnsabilização, dar-se e receber, partilha, comunhão...
O prazer não é um fato orgânico... è pele, corpo e coração... Sintonia e afinidade, amor-contemplação e amor-prazer... Um só amor, fases de uma única realidade.
Há falsidades no sexo e no amor: amo, mas já não desejo... desejo muito, mas não amo...
Desejamos sempre... A comunhão amorosa envolve investimento e renúncia...
Igualmente, não há amor sem dedicação e devoção, sensualidade e ternura...
Corpo é alma, alma é corpo:indubitável experiência para crentes e ateus...
Sabendo disso, e, igualmente, sabendo que o desejo é construção... Parece sábio unir corpo e coração, apartados pela ideologia, e inventar, no desejo, um amor que não seja um artefato de luxo de autopromoção nem um fuzil de uma ou outra destruição.
Amor é vida - corpo e coração...

3 comentários:

Anne M. Moor disse...

Amor
Defini-lo impossível ou no mínimo difícil.
Senti-lo um prazer deliciosamente delirante.
É pra sempre? Não. É um néctar a ser
alimentado por sentires, toques, olhares,
palavras, entrelinhas, carinhos e muita ternura.
É ter o que dizer. É saber ouvir. É querer
estar junto, é fogo em chamas! Deixar
as labaredas esmorecerem é morte lenta.
Atiçar o fogo da paixão faz parte da
dança da sedução, combustível do amor,
‘esse indizível’, girando as rodas da vida.
Experimentar as flamas do amor e da paixão é
saber-se aconchegado na concha do amado!

beijos
Anne

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, você me diz das coisas que penso e vivo, e como me sei pouco singular na arte de amar, creio que suas palavras dissecam a experiência humana do amor... Mel e vinagre; voo e quedas; porém , a única possibidade de se dar e se encontrar com intesidade e fogo, ternura e loucura.
...Um encontro que nossos medos e nossos comodismos não conseguuem engaiolá-lo numa prisão de pura racionalidade.
Amor , amar: a aventura humana que nos levam ao céu, dando-nos a real dimensão do chão...
Sem ele, o amor: a vida perde brilho e encanto...
Não morremos, porém, nem mesmo vivemos...
Sem o amor , somos zumbis errantes , perdidos num cinzemto cotidiano...
Como são belas as estrelas se as vemos, não num telescópio, mas, sim, pela exploxão da paixão que nos leva a elas, tanto quanto as grudam na nossa própria pele...
Beijos. Imenso carinho... Jorge

Anne M. Moor disse...

Jorge
Adoro as leituras que fazes do meu poetar. Me poetar (que começou em 2007) é algo que faço com imenso prazer e que tem sido um mel para me entender melhor!

bjos
Anne