Jorge Bichuetti
Não conseguimos negar o abismo que se abre numa vida, quando se manifesta um grave sofrimento mental.
Sofre-se, pois, além dos sintomas de angústia, tristeza, desvitalização e irritabilidade, o indivíduo se sente do mundo excluído.
Excluído, pelos preconceitos que marginalizam a dor psíquica e a diferença emergente numa crise; e, também, excluído, pela solidão que se instala, uma vez que , geralmente, os outros indivíduos negam e temem, desvalorizam e mistificam a dor de quem na vivência de um problema psíquico e social, apresenta uma lágrima que espelha para quem a mira a nossa própria humanidade.
Somos humanos e o sofrimento constitui uma face inalienável de toda vida.
O mito da loucura ergue-se e afasta, gera um profundo silêncio, um despovoamento dos que sofre; ou um barulho ensurdecedor dos que se colocam no vozerio que desqualificam a dor, nomeando-a de fraqueza, vontade débil, preguiça existencial ou falta de firmeza e fé.
Caem os tronos, quebram-se as coroas...Esfacelam-se nossos principados no reino da alegria fútil e vazio, contudo, futilidade e vazio hipervalorizados por nosso mundo de vendedores e vencedores, de risos de aparência e sucessos fugazes...
O espetáculo não comporta os dramas reais...
Rotelli diz que não cuidamos , se vemos na loucura e nos outros transtornos mentais, um rátulo, um diagnóstico, um CID, cuidamos quando vemos na lágrima que cai a existência-sofrimento em conexão com o social e dela nos aproximando, potencializando as diversas linhas do existir,não na persiguição de um ideal de cura, mas na busca da emancipação, vida que se afirma na singularidade de uma caminhada por um novo existir.
Cuidamos potencializando a capacidade de aceitar-se, resistir, e inventas linhas de invenção de vida nova, singulare desejante ( linhas de fuga)..
Cuidar, aqui, exige devir-se maternagem... Maternagem não é superproteção nem infantilização do outro. Maternar é acolhimento amoroso e terno, compreensivo, que contém o outro, e outro se sente contido e aceitto como é como está...
Principlamente, fazê--lo se sentir sustentado, escorado, amparado... Como se o cuidador fosse um poste onde nos escoramose somos por ele iluminado...
Cuidaré dar vida: contagiar, afetar, potencializar... E ai urge que utillizemos fontes de alegria e vida: arte, poesia, canções, dança e festa, a montagem de uma rede de agenciamentos que mobilizem o desejo artístivoe a vontade de potência para experimentos de afirmação da própria vida e do novo...
Uma clínica que quebre a solidão: companhia, parceria, partilha...
Uma clínica insurgente: vê-se o humano e humano sucateado pela vida-mundo de podridão e desamor, opressão e selvagem exploração... um mundo falido com um crônica solidão intucionalizada no individualismo e com uma carênciade espaços e fluxos de desejo e liberdade...
E vendo, trabalha a reinvenção da vida e do mundo... Cuidar é ativar as potências da mudança no indivíduo e no mundo... Um desatar dos nos da vida de abismo e alçar nos voos do devir, uma nova vida parida e inventado, da lágrima que cuidado abre os portais do porvir...
Cuidar: arte, artemanha... um trabalho nos territórios do amor e dos sonhos.
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
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8 comentários:
O diagnóstico, na maioria das vezes, rotula o paciente, e ele fica diante da família, dos amigos e da sociedade estigmatizado. Esse rótulo agrava ainda mais a sua situação mental. Com certeza, a arte é um dos melhores caminhos, depois da medicação e da psicoterapia, para aquele que tem alcance, é claro, para se desvelar o devir descoberta de potencialidades, o devir amor. Aquilo que ele não consegue se expressar pela fala, devido a um pensamento tangencial, é capaz de transmitir suas emoções pelo objeto artístico, seja este teatro, artesanato, escultura, dança, etc. O importante, a partir daí, é a sua valorização como ser humano e inclusão, não como um deficiente, mas apenas como um "diferente" carregado de lindas subjetividades. Tal qual acontece conosco, ditos "normais", somos diferentes diante dos outros (ainda bem). Cada um é diferente, cada um é singular, temos que lutar contra a massificação, a globalização que nos mercantiliza, padronizando a nossa moral, as nossas condutas, os nossos sentimentos, etc. Poderíamos, em vez de pensar somente na inclusão social, pensar na "exclusão política" daqueles que são contra o povo, daqueles que institucionalizam preconceitos. E viva à nossa luta!!! Beijos.
Tânia, precisamos avançar na caminhada,aprofundar nossas produções de amor, solidariedade e liberdade, e liberar os sonhos...
A estigmatização da loucura e toda diferença é um mecanismo de manutenção do sistema.
A superação urge... A revolução no aqui e agora das nossas vidas.
Abraços, comimenso carinho, Jorge
Concordo plenamente com o que disseste. Há também que se pensar que, às vezes, o "doente" possa vir a usar esse rótulo estigmatizante a seu favor, como justificativa para deixar de fazer muitas coisas interessantes em sua vida. Falo com mais precisão pensando no meu filho caçula que "tem bipolaridade" e "não é bipolar" acompanhada da comorbidade fobia social. Hoje já não usa mais estabilzador do humor, apenas antidepressivo, um único medicamento e faz terapia desde os 17 anos. Beijos.
Tânia, querida, muitas vezes, o abismo nos dá o que não acreditamos conseguir por nós mesmos... Paralizamos neste ganho secundário e nos formatamos menos... É preciso chamar para vida... Com carinho, mas no fundfo, principalendo, vendo as potências adormecidas...
O amor pode ativar.... O amor pode desvendar caminhos... Ele abre horizontes... Abraços. com ternura , jorge
Conheci pela TV o astrologo Oscar
Kiroga.Muito interessante,tranquilo,viajeiro.
Falou das crianças que estão nascendo no pós guerra,difer enciadas.As que mais gostei foram as " crianças cristais" cuja características ,é a indiferença a
tudo que se quer impor por aí. A eterna busca do não sei o que.Será
Amigo, o novo sempre aporta algo que necessitamos para um novo alvorecer, um belo dia;
Abraços, Jorge
Meu Doutor,
Enviei-lhe um texto no mesmo dia em que estive aí, inspirado no
abraço sem fronteiras.
Voce ainda tem o texto aí
Envie pra mim.
carmemdeb@uol.com.br
Tchau doctor 30 minutos.
Não se zangue porque quem está meio p... sou eu. Sorry
Amiga, terei logo que tiver um intervalo, lhe envio, Jorge com carinho...
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