terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

MESTRES DO CAMINHO: VOZES DO MUNDO ARÁBE

Não valorizamos, nem conhecemos , porém o mundo arábe é um universo singular, profundo e rico...
Eis alguns de seus provérbios populares:
- Não declares que as estrelas estão mortas só porque o céu está nublado.
- Não é o que possuímos, mas o que gozamos, que constitui nossa abundância.
- Não é mérito o fato de não termos caído e, sim, o de termos levantado todas as vezes que caímos.
- A árvore quando está sendo cortada, observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira.
Khalil Gibran é um escritor do mundo arábe que ganhou espaço no nosso mei. Vejamos, alguns dos seus pensamentos:
- Dizeis: darei só aos que precisam. Mas os vossos pomares não dizem assim; dão para continuar a viver, pois reter é perecer.
- O amigo é a resposta aos teus desejos. Mas não o procures para matar o tempo! Procura-o sempre para as horas vivas. Porque ele deve preencher a tua necessidade, mas não o teu vazio.
- Aquele que nunca viu a tristeza, nunca reconhecerá a alegria
- A neve e as tempestades matam as flores, mas nada podem contra as sementes.
- As flores desabrocham para continuar a viver, pois reter é perecer.
- Deve existir algo extranhamente sagrado no sal: está em nossas lágrimas e no mar...
E, agora, escutemos a voz de um poeta surrealista egípcio, Joyce Mansour:
"Convide-me para passar a noite em sua bocaConte-me sobre a jovialidade dos rios
Aperte minha língua contra seu olho de vidro
Dê-me sua perna como alento
E depois durmamos irmão de meu irmão
Pois nossos beijos morrem mais rápido que a noite " Do livro Cris
                  ***
"O meu riso vai alto,
Mais alto que os chapéus dos cardeais
Mais alto que a esperança
Os meus seios riem quando o sol brilha,
Apesar dos meus fatos apesar do meu noivo.
Feia que sou, sou feliz.
Deus e os vampiros
Amam-me." Do livro De Faire signe au machiniste...
                  ***
E num abraço solidário ao povo do Egito, Uma recordação da obra de Fernando Pessoa:
A Grande Esfinge do Egito
A Grande Esfinge do Egito sonha por este papel dentro...
Escrevo — e ela aparece-me através da minha mão transparente
E ao canto do papel erguem-se as pirâmides...
Escrevo — perturbo-me de ver o bico da minha pena
Ser o perfil do rei Quéops ...
De repente paro...
Escureceu tudo...
Caio por um abismo feito de tempo...
Estou soterrado sob as pirâmides a escrever versos à luz clara deste candeeiro
E todo o Egito me esmaga de alto através dos traços que faço com a pena...
Ouço a Esfinge rir por dentro
O som da minha pena a correr no papel...
Atravessa o eu não poder vê-la uma mão enorme,
Varre tudo para o canto do teto que fica por detrás de mim,
E sobre o papel onde escrevo, entre ele e a pena que escreve
Jaz o cadáver do rei Quéops, olhando-me com olhos muito abertos,
E entre os nossos olhares que se cruzam corre o Nilo
E uma alegria de barcos embandeirados erra
Numa diagonal difusa
Entre mim e o que eu penso...
Funerais do rei Quéops em ouro velho e Mim! ...
Fernando Pessoa


2 comentários:

Marta Rezende disse...

Jorge, viva a poesia árabe, viva o povo árabe, viva a língua árabe. E que o Egito, Estado, pare de trair o seu povo. Pare de se aliar às potências imperialistas e seu jogo sujo no Oriente.
O mundo está vivendo a rebordosa de 25 anos de acachapante e nojenta hegemonia neoliberal. E o pior, é que não acabou... A luta continua. E como!
abraços
marta

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Marta, a luta continua... Resistência e audácia hão de permitir um novo Egito, e um novo mundo... Belo povo, será igualmente belo o vida num novo tempo que povo na rua vvem escrevendo e nós sentiremos com as luzes poéticas de um livre alvorecer...Beijos, com carinho e somhos partilhados .
Jorge