sábado, 12 de fevereiro de 2011

O TEMPO KAIRÓS, O TEMPO DO ACONTECIMENTO

                                                       Jorge Bichuetti

Somos escravos do Cronos... Relógio, caléndário, agenda eletrônica, despertadores, celulares, cartões-de ponto... Dia e noite... As estações... Meses, décads, sécumos e milênios...
Vida cronometrada. Não pode perder o tempo... e o tempo assa e não volta...
De fato, o tempo cronológico é o tempo irrecuperável... O passado se desfez, não existe; o amanhã não chegou, igualmente,uma nulidade... É o tempo a soberania do aqui e agora.
Ele rege nosso cotidiano e as nossas paixões... domina nossa vida que se dá sob oo domínio dos sentidos e do passional...
É o tempo da produtividade, da velocidade, do tarefismo, do pragmatismo... O tempo dos eternos adeuses.
O aion é um tempo, porém , um tempo atemporal, eterno, impegável, pois não possui forma eé  inominável... Se passa no continuo inalterável da imaterialidade.
Pura desterritorilização num grau máximo que o torna tempo inoperável...
Assim, podíamos cair no negativismo ena desilução e nos acomodar à servidão cronos.
Todavia, há outro tempo... O tempo Kairós: tempo do instante, do acontecimento e do devir...
Se Cronos é ordem codificada e quadriculada e o aion, um caos indomável; Kairós é caosmose...
O tempo que exige atenção e prontidão, ois, não cronometrado, acontece...
Ele - Kairós, é o tempo reconciável das artes e das percepções sutis, moleculares, que não dadas pelos inco senidos , mas pelo afetar e ser afetado à nivel da sensibilidade fina, afetiva, trans-sensorial...
Ele, sim, é re-tomável...
Ele, sim, se dá às criações do novo...
Ele, sim, não nos abandona, nem nos atropela... Podemos encouraçados não sermos contagiados, afetados, agenciados...
Nele, um instante é um riacho perene que mesmo inundando o mar, pode ser re-tomado na profundidade das experimentações  que longe do soberano cronos, ocorrem na dimensão das pontes   que se dão  entre um inconsciente amorfo e velocíssimo, cujo galope nunca alcançamos, e as linhas de fuga, que são arte-vida numa nova sensibilidade, numa nova subjetivação... O novo na carne e sangue de um acontecimento que , embora, se consuma numinstante, este instante é pernizável e re-conciável, re-tomado.
Ante estas reflexões, perguntamos: qual o tempo norteia e domina a nossa vida?
Se o aion, mergulhamos num infinito vazio e cheios de buracos negros..
Se cronos, nos atolamos na servidão e adoecemos de perdas, nostalgias e desconexão com o ontem e o amanhã: sem ontem, caremos e históoria na corporeidade da vida, e sem o amanhã, nos esgotamos na impossibidade de dar vida a tanta potência nas gavetas fechadas dos minutos...
Kairós - um novo tempo... Não que seja novo na vida, mas que nos permite reinventar a vida e o mundo num tempo que nem escraviza, nem foge pelas poros da nossa pele e fissuras da nossa alma.
Kairós - o tempo do instante, do acontecimento e do devir... é, também, o tempo da esperança da arte de viver no caminho do vier, artisticamente.
Kairós - a vida como obra de arte...

6 comentários:

Adilson Shiva - Rio de Janeiro - Brazil disse...

Jorge , bom dia , bom domingo...
Sua energia causa espanto ... espanto ...o espanto de uma reflexão filosófica ...de um carinho que constrói...Tornei-me um habitué do seu blog ...um blog encantado pela riqueza dos textos ... pelas ilustraçoes , enfim pela sua maneira de se demorar e habitar poeticamente as coisas ...pbéns ...
Então aí vai um poema agostiniano

Sobre o tempo...

A eternidade não é o tempo.
É o instante presente,
Que se perde para sempre
Nos olhos que lêem o momento
Eternizado no olhar.
A eternidade , são as horas,
Que passam , passam,
Mas, não saem do agora.
A eternidade é um nada,
Quando tudo está bom
E subitamente acaba.
(@Adilson S. Silva)

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Adilson, esta não! Bingo. Que poema. Há um tempo venho evitando entrar na discussão sobre o tempo - cronos, aion e kairós; e tempo reconsiável e tempo perdido... Motivo: falta de pessoas que sentiam-se motivadas a tal desvario e carência de autores..,
Não sabia que StoAgostinho havia trabalhado tal tema...
Tenho um amigo que estudou na poética surrealista...
Não irei pedir mais... Quando algum poema for íntimo, impublicável, tenha toda liberdade de dizer que não... Pois esse é divino.
Abraços com muito carinho e ternura, Jorge

José Caui disse...

Jorge, eu fico agradecido, pois este espaço é pura reinvenção do modo de agir e pensar, vamos juntos por um povo porvir. E viva a Universidade Popular, com muita poesia e ação por um de PAZ. Abração

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Cauí, você um parceiro que vem ajudando no tom e no canto que entoa este blog... Um encantamento da vida pela libertação, juntos criaremos muita vida e muita paz. Abraços, Jorge

Tânia Marques disse...

O tempo externo é uno e linear. O tempo psicológico quebra todas as lógicas da vida e do discurso pela sua riqueza. Na combinação dos dois, o tempo-devir terá como base o tempo-pretérito, mas aquele sempre supõe-se melhor pelo acúmulo de experiências e sabedorias deste último. Tânia

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, se o tempo passado é do eterno retorno, sim, pois este volta com a diferença nas suas entranhas...
Senão, penso que é o infinitivo, mais próximo do a-temporal.
Porém, estou refletindo pela primeira vez. chute.
O tempo da arte e da sensibilidade, é psíquico liberado dos alvitres do ego-superego.
Vamos conversando... trocando tecemos uma nova ideia.
Jorge
com carinho e ternura,
sempre.