Há ditaduras no ar... a ditadura do prazer. A ditadura da felicidade, da juventude, da beleza e da vitória.
Imanente a elas muitas ilusões.
A sexualidade não é uma expressão corporal e psíquica, única , uniforme e imutável.
Vemos no envelhecimento um caminho irreversível de decadência da capacidade sexual e de prazer.
Um mito, uma cena temida, uma pressão... sobre todos nós.
Se a força bruta do jovem fosse um paradigma permanente da vida, a velhice seria um decréscimo rumo à morte.
Cada fase do ciclo da vida possui seus limites e potências.
O envelhecimento é um fase... não é como muitos vêem o processo do fim.
Desconhecemos da velhice, pois, vivemos num mundo que relega os velhos ao isolamento ou ao ostracismo.
A velhice pode... onde a juventude não pode, pois falta-lhe valores e potência, conhecimentos e sensibilidades que ainda não desabrocharam.
Hoje, com a vida prolongando-se, vemos um novo desafio. Viver a velhice num mundo de soberania na lógica existencial do corpo jovem e num mundo onde o que é cultuado determina fragilidades existenciais, quando o nosso corpo já não pode ou consegue viver freneticamente as experiências baseadas na força física e nos movimentos corporais intempestivos..
O velho descobre novos prazeres e novos fazeres: eis a magia da vida que permite vida de intensidade e potência sempre.
Contudo, potências e intensidades distintas...
Não se trata de racionalizar debilidades...
Toni Negri explica que se o corpo viril e jovem da mocidade é um corpo mergulhado na sexualidade e no prazer; este funcionamento, para ele, não apresenta a qualidade da sexualidade e do prazer que pode desfrutar um corpo já envelhecido.
A sexualidade-padrão é força bruta, sexo genitalizado e orgástico, valores quantitativos e baixo teor de vinculação afetivo-amorosa.
Advoga, então, existe aumento de potência no campo da sexualidade e do prazer como passar dos anos...
Acontece que isto não-tematizado nem valorizado, por chegar as debilidades do nosso modo de ser, estar e existir.
Com a velhice, potencializa-se a capacidade de ternura e suavidade, de vínculo e bons encontros.
Conclui, dizendo, que o prazer e a sexualidade ganha , então, qualidade...
Necessitamos quebrar esta lógica monolítica da vida como uma perene mesmice.
Só, assim, viveremos intensamente cada fase da nossa vida.
E saberemos, então, de conjugá-las como um caminho de experimentações vivas e ricas,não excludentes...
Um encanto em cada canto...
O brincar da criança, as aventuras do jovem, o labor da madurez e uma sábia ternura e uma experiente suavidade da velhice...
Vivamos... Vivamos com alegria, sonhos, encontros e amores...
Há um mundo novo em cada esquina desta fascinante caminhada chamada existência.
9 comentários:
Ahhhhhh Jorge...
"Vemos no envelhecimento um caminho irreversível de decadência da capacidade sexual e de prazer."
Nada disso! A velhice nos traz ou me trouxe a capacidade de amar sem cobranças e neuroses (muitas rsrsrs) e a descoberta que o prazer sexual é muito melhor regado pela ternura e carinho que não temos mais medo nem de dar nem de receber!
Nos 50 e tantos reconheci que eu ainda era mulher e tinha uma vida intensa a ser vivida... Cá estou vivendo :-)
Muitos jovens podem ter a potência e a força MAS ainda não conheceram seus corpos o suficiente para ter prazer no sexo. (Tão triste isso e algo que me espanta!!)
beijos de bom dia
Anne
Eu simplesmente amei o teu blog, ou seja, a tua maneira de ver a vida e abordar as temáticas do cotidiano (interno e externo)de todos nós, viventes na Pós-Modernidade. Visite os meus blogs também:
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Observa que alguns não têm ponto após o www e um deles não tem o www.
Teu blog tem conteúdo lírico, lógico-científico, social, psicológico e cultiva o otimismo. Meus parabéns! Tânia Marques (Porto Alegre)
Anne, querida, a primeira vez que li o Negri, tratando deste tema, gostei, porém, um gostar teórico. Hoje, vejo em mim o que pode a ternura...
Necessitamos de mais vida na vida; para tanto, devíamos ir desmistificando as ilusões que limitam a potencia do existir.
No amor e no trabalho, na miltância por novo mundo, vejo que jovem eu era um fantasma, força e nada mais... Aprendemos, e crescemos... Descobrimos novos horizontes, em nós , no outro e no mundo...
Abraços, com ternura.
Jorge
Tânia, senti que somos de multiplicidades...Irei, hoje, a noite, após, meus atendimentos visitar todos eles...
Amo a poesia, o social, a fillosofia e muitomais. Creio que apaixonarei por todos eles...
Obrigado pelo carinho.
Beijos, com a ternura das flores e com a alegria dos passarinhos...
Abraços, Jorge
Mais uma vez, dou-te os meus parabéns pela abordagem sobre a velhice. Vivemos, segundo Bauman, uma vida líquida, permeada de amores líquidos, onde o que importa é o que carregamos na carrinho do supermercado (consumismo desenfreado) e não aquilo que acumulamos como bagagem emocional, afetiva, cultural,intelectual, etc. As relações são descartáveis (sem saudosismo, apenas constatação), o amor dilui-se mesmo antes de existir, pois as coisas e os sentimentos passaram do estado "sólido" para o volátil. Tudo escorre pelos dedos e se perde no nonsense, no niilismo que a ditadura do capital nos impõe. O jovem para ser aceito socialmente, na maioria das vezes, precisa ter o corpo tatuado, perfurado e mutilado por piercings em lugares íntimos, sarado ou bombado (estética fascista); precisa usar máscaras diversas numa tentativa de provar o que não é, valendo-se de uma vida repleta de simulacros, ou melhor, de um simulacro de vida. O idoso, dotado de sabedoria acumulada pelas experiências vividas, apresenta um estatuto no papel que não bate com a sua realidade. Tudo é feito levando-se em conta a juventude, por ser esta a força de trabalho ativa (mesmo que não-qualificada) que legitima, leva à frente o capitalismo, o lucro e o desejo de consumo de bens. Vejo todo esse problema da velhice através de minha mãe, cadeirante, cheia de limitações (84 anos) e com carências por todos os lados, não há rampas em nos espaços públicos, os táxis não levam cadeiras de rodas, banheiros adaptados nos apartamentos não existem,entre outros fatores que tu bem sabes sendo médico que jogam a autoestima do idoso na lata do lixo. É isso, ratifico o teu pensamento e a tua visão otimista da vida através deste post. Beijos.
A sociedade cultua uma visão cartesiana do corpo.Infelizmente.
Tânia, seus três comentários me levaram a entender que não me equivoquei na primeira ousadia doblog: cartografia. O tema era lançado e ia se compondo e ramificando, gando com isso beleza e complexidade.
Hoje, sinto isso...
Escremos juntos...
A sociedade de consumo é feita de descartáveis: a mercadoria, o velho e outras minorias, mas, também, o amor tornou-se um produto descartável.
O modo de amar dominante e mdo de ver a vida, não dá lugar para os vínculos suaves e ternos... Aí, se deparamos com algum calvário, entremos em cantoto com o grau da nossa solidão.
Corpos descartáveis, almas dissolviveis...
Precisamos comoçar a agir, por nós e pelos que virão...Escrevendo, poetando, gritando...
abrindo espaços para que vida posa se manifestar no seu profundo amor pela vida...
Abraços, Jorge.
Sim, Jorge, penso assim como você. Nós temos de aproveitar as brechas do sistema para criar subjetividades em nós e despertar nos outros as suas subjetividades. Beijos carinhosos
Sim, Tânia, e hoje, especialmente, pela manhã estava pensando na subjetivação via blog.
Analizando minhas observações. Criamos sem perceber um espaço de vida.
Abraços, Jorge
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