sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A ARTE DO DIÁLOGO: O SILÊNCIO, VOZES E RUÍDOS...

                                                                Jorge Bichuetti

Con-viver e o próprio existir  não prescinde da nossa relação com o outro.
Todo ofício e todo relacionamento se constrói na prática da dialogocidade,,, Somos seres sociais... E a palavra verbal ou corporal, os silêncios serenos e harmoniosos ou conflitivos e atormentados são nossas pontes para uma connexão com o outro.
Não educamos, não vinculamos, não transformamos, não comungamos, não partilhamos... longe do diálogo.
A arte do diálogo não é uma arte visceral, não basta   carregar  um corpo humano para o exercício do diálogo.
Diálogo não é... Verborragia; um vômitos de palavras; um discurso interminável; uma exaustiva  e corpulenta exposição de um conjunto de verdades; um gigantismo falante de um ego; uma formatação do outro via  o uso da palavra.
Não é um eu e tu... Diálogo é um processo que se inventa na potência e alegria do entre de uma relação. É um nós...
Dialogar é escutar, trocar, partilhar, permutar, inventar no espaço do encontro.
Não há diálogo se o silêncio e a palavra se erguem para evitação do encontro.
Normalmente, mas discursamos e domesticamos, do que dialogamos.
Diálogo não é ... uma luta pela palavra e pelo silêncio.
Existem alguns comportamentos e hábitos que funcionam como ruídos anulando a possibidade do diálogo e do encontro.
Pedras e espinhos que cortam o processo do diálogo...
Eis alguns dos que se revelam mais perigosos e perniciosos no processo da comunicação criativa:
- o império das afirmações, das verdades prévias, dos és... O diálogo se fertiza e se intensifica com o predomínio do uso da con-junção e... Da sincera disposição de se produzir algo. Ele perde força quando o vemos como meio de transmissão mecânica e vertical de um dado e de uma visão...
- a depositação no outro de uma falta. A projeção e explicitação de uma falta coloca o outro na defensiva, recheado de palavras ou silêncios. Diálogo é crescimento inventivo partilhado; não é instrumento corretivo, punitivo ou de identificação sádica de feridas e limites do outro. Ele funciona aditivado quando trabalhamos as potências mútuas em conjunção...
- a ausência de escuta. Diálogo é inter-ação, co-produção... Se eliminamos a escuta, excluímos o outro do jogo...
- a fixação de papéis cristalizados e vínculos estereotipados.Diálogo é espaço de criatividade; e se o montamos com um roteiro prévio, papéis dados e vínculos estabelicidos e imutáveis, o inviabilizamos, pois já definimos, anteriormente, um monólogo mútuo, disfardo de conversa...
- o uso de sobrecodificações interpretativas. Se a palavra e o silêncio do outro já não dele, pois, as desconstruimos  nomeando o que eles , de fato, dizerem e expressaram, o dialogo é uma farsa. Re-tiramos o outro do cenário do encontro...
- e, finalmente, me parece que a luta, a disputa, e ânsia de que acha um vencedor e um perdedor, estraçalha com a possibilidade dialógica. Diálogo não é ringue, luta livre, ou uma final de um campeonato... Não é exercício de convencimento, de manipulação, de nocautes... É espaço de produção com, no entre, busca de
um novo, para ambos, que saiem renovados e reinventados do diálogo e do encontro... Espaço de subjetividades livres, subjetivações, e,não, luta entre sujeitos pela uniformização da vida.
Transversalizemos nossos encontros e dialoguemos...
O diálogo nos transformará e transformrá nossas vidas...
Dialogando, nunca nos aprisionaremos na mesmice...
Potencializamos os diálogos e os encontros, e veremos sua força e vitalidade..
Ela aparecerá auterando-nos a própria vida... Nossos amores, nossos trabalhos, nossas convivências... Que , muitas vezes, agonizam pelo excesso de palavras e silêncios, empobrecidos, entretanto, pela ausência do brilho, da fertilidade e efervescência que germinam nos encontros e nos diálogos...
Assim, termina estas notas dispersas com uma poesia, que a trago no coração:

Tua Palavra
                 Jorge Bichuetti

Dê-me tua palavra.
Uma. Só tua...
De carinho...
De mágoa...
De ternura...
De dúvida...
De paz... de amor...
Uma, qualquer, porém, tua...
Só, assim,
entre a magia do que pensas
e os voos dos sonhos teus;
quebraremos
a distancia
a ausência,
e, finalmente, nos encontraremos.

5 comentários:

Anne M. Moor disse...

Jorge

Lindo poema no final de um texto instigante. Enxerguei-me em diversos pontos deste teu texto :-)

E pra te responder um comentário que fizeste sobre o meu poetar... Não vejo como coragem me esparramar na tela, é mais uma necessidade de me escrever para me entender. Começou aos poucos e as vezes, qdo me leio, tenho dificuldade de acreditar que fui eu que escrevi aquilo!

beijos
Anne

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, os surrealistas acreditavam, rompendo com a lógica formal, que somos possuídos pela poesia.
Este texto deveríamos assinar juntos, não ousei por achar que não poderia abusar da sua generosidade e me afirmar sobre o seu nome que eu amo.
Porém, relembre seu comentário e verá que somentem dialoguei com as teorias, em cima da sua sensível e porvindoura afirmativa.
Amo a vida.
Amo a amizade.
Amo a poesia...
Continemos , construindo uma aurora que nos faça ver, para lém das dores, o nascer de um novo dia.
Abraços, Jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, os surrealistas acreditavam, rompendo com a lógica formal, que somos possuídos pela poesia.
Este texto deveríamos assinar juntos, não ousei por achar que não poderia abusar da sua generosidade e me afirmar sobre o seu nome que eu amo.
Porém, relembre seu comentário e verá que somentem dialoguei com as teorias, em cima da sua sensível e porvindoura afirmativa.
Amo a vida.
Amo a amizade.
Amo a poesia...
Continemos , construindo uma aurora que nos faça ver, para lém das dores, o nascer de um novo dia.
Abraços, Jorge

Tânia Marques disse...

Lindo demais, poema existe e não é para ser explicado, mas SENTIDO. Tocou fundo!Mexeu em meu coração apaziguado! Abç.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, poetizamos para sobre-viver e sobre-voar... abraços, Jorge