sábado, 12 de fevereiro de 2011

POESIA: ASAS DE MENINO

           CORAÇÃO DE MENINO
                                          Jorge Bichuetti

Ah! Coração de menino
conversa direto com Deus;         
fala a língua dos anjos
e, só, canta os sonhos seus...

                       MENINO
                             Jorge Bichuetti

Menino, cresce,
mas não esqueças
da verdadeora alegria...

Trabalha, mas não percas
os jogos e as histórias;
por elas o montruo fugia...

Brinca, sorrindo,
menino, a vida passa
rapidinho;
depois, homem feito,
não deixes de voar,
nem de tecer
teu próprio ninho...

               
                                                                   O PALHAÇO
                                                                                     Jorge Bichuetti

O palhaço me faz rir                         
e, somente, chora, se sozinho;
devia ser o presindente,
sabe dar-se por carinho...

                                  LEMBRANÇAS DE MENINO
                                                           Jorge Bichuetti

Passarinho na gaiola,
recorda os velhos castigos:
eu, menino, de pé
lendo a tabuada;
ajoelhado no milho
ouvindo u'a ladainha...               

O escuro do quarto
e as sombras,
na infância, ali, ficaram...
Era a imaginação,
cerceando meus anseios
de estar longe dos meus pais...

Pássaro livre, voando,
me recorda a liberdade
e as cantigas de ninar;
aí, me sentia umrei,
correndo pelas matas
com um protegido sonhar...


                                   
                           
                               ASAS DO MENINO
                                                          Jorge Bichuetti

Se fosse , de novo,
uma criança,
eu não cresceria...
Cresci e me perdi.
Não me encontro
no terno en agravata,
no sapato apertado
e no título de doutor...

Não me encontro
nas festas de fantasia
onde a máscara retrata
um rosto, ali, de baixo,
de cinismo ocultado
com papéis secundários,
no teatro da mentira,
da vida de um social ator...

Onde voam as pipas?
Onde rodopiam os peões?
Cadê as bolas de gude?
A taba de índio, numa árvore,
e o céu do riacho, onde nus
mergulhávamos com expontânea alegria
da vida de passarinho,
entre o fruto e a flor?...

Cadê a leveza
de uma vida singela,
descalça e natural,
cheia de brincadeiras?
Cadê o sonho e os medos
de uma vida sem floreios,
onde sorrir er aum predicado
do coração de pureza e amor?...

10 comentários:

Anne M. Moor disse...

Jorge

Um caminhada que todos queremos saber pra onde foi... É abrir as asas e se deixar voar em voo livre...
É despir o terno e a gravata e vestir uma bermuda e uma camiseta cômoda e sorrir pras estrelas que piscam.
É... permitir-se ser feliz sem mitos.

bjos
Anne

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, como , muitas vezes, choro a infância... Não por ter ido... É o tempo, a caminhada... Choro, por me perder dela, sendo que ela persiste adormecida ou não, dentro de nós...
sua reflexão querida amiga, é uma poesia preciosa: vale dar-lhe vida...
E seu último poema : uma produção que fala de nós, os que ousam sobreviver, sonhando, mesmo carregando o peso de tantos riscos.
Abraços, com muita, muíssima ternura, Jorge

Anne M. Moor disse...

Jorge

Uma coisa que me ajudou imenso foi me encontar com minha infância depois de 50 anos. Estudei, até os 10 anos, em Montevideu em uma escola britânica. Em 1999 foi organizado um grande reencontro dos alunos da escola dos anos 50 e 60 e nos encontramos na escola por 2 longos dias de muita festa. Isso foi o início.

Em 2007, um dos mesmos que começou a busca por nós todos na internet nos juntou novamente em um googlegroup em preparação para os 100 anos da escola em 2008. Deste encontro, minha turma do jardim de infância me achou e me chamou para participar do encontro anual da turma. E desses 'encontros' todos encontrei colegas da minha infância, outros que não foram meus colegas mas tinham entrado na turma depois que eu vim morar no Brasil com 10 anos e somos 7, epalhados pelo mundo em contato diário em uma amizade gostosa demais e desde então, nos meses de março, me encontro com, em torno de 25 colegas dos anos 50... Sensacional! Encontrei-me com a minha infância e o fato de que todos se lembravam de mim é algo tão surpeendente que fico pasmo cada vez que penso!! :-)

bjos
Anne

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, eu, também, reencontrei minha infânia... Não tive sua alegria de ser via encontros com pessoas...
As pessoas passam, mas se passam perdemos um tempo de vida ( é uma teoria muito interessante, parecida, com o vivido por você: necessitamos de interlocutores, para que as lembranças não sejam somente um fato solitária nas noites sem ninguém).
Me encontrei através de um Rio... O rio da minha infância ... e rio da vida de meu pai: era sua paixão.
Inclusive, quando jovem e tuberculoso, ele ganhou um prêmio com uma poesia que falava da saudade deste rio...
Já minha juventude vive voltando com os amigos que realizam no meu coração um eterno retorno...
A infância é um momneto impar: leve, suave... feito o vento das manhãs calmas...
Gostaria de viver algo tão forte como este re-encontro...
Porém, me alegro que o que não é possível no real, toma vida na virtualidade de uma poesia...
E como os surrealistas acreditavam: isto é real.
Gosto muito de você... apesar de conhecê-la só de alguns dias. Mas como conheço sua poesia, imagino-me próximo de sua alma.
Abraços, com imensa ternura... e com a brisa perfumada que pulsa , agora,no meu pequeno quintal...
Jorge

Marta Rezende disse...

Do Guimarães Rosa sobre meninos, há muitas. Sagarana é demais, o primeiro conto, Jorge, veja lá o menino.... Segue apenas uma amostra de como Rosa trata isso tão delicadamente como vc em seus poemas de menino.

" Um menino nasceu - o mundo tornou a começar"


“Eu olhava esse menino, com um prazer de companhia, como nunca por ninguém eu não tinha sentido. Achava que ele era muito diferente, gostei daquelas finas feições, a voz mesma, muito leve, muito aprazível. Porque ele falava sem mudança, nem intenção, sem sobêjo de esforço, fazia de conversar uma conversinha adulta e antiga. Fui recebendo em mim um desejo que ele não fosse mais embora, mas ficasse, sobre as horas, e assim como estava sendo, sem parolagem miúda, sem brincadeira— só meu companheiro amigo desconhecido.[...] Mas eu aguentei o aque do olhar dele. Aqueles olhos então foram ficando bons, retomando brilho. E o menino pôs a mão na minha. Encostava e ficava fazendo parte melhor da minha pele, no profundo, désse as minhas carnes alguma coisa. “

"Um dia, hei de escrever um pequeno tratado de brinquedos para meninos quietos."

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Marta, já sapeaste meu texto no blog: devir criança:lições de erês...
Rosa é tão precioso: sensível, doce, e guarda nas entrelinhas um punhal como o jogador que não esquece sua carta escondida numa manga de camisa.
... e o mundo is coeçar.
Abraços, com nós-meninos, re-começando sempre um novo dia.
Abraços, Jorge

Marta Rezende disse...

Sim Jorge. Meninos. É o que somos. Ave!!! Vou ler mais seus meninos. Devir menino. bacio M

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Marta é um estudo bem legal: tudo que
Deeuze e José Gil dizerra sem conhecer sobre o devir criança está na lenda dos erês.... E para todos semata o devir criança, todos os outrose inviabilizam, pois no devir criança esta o brincar e o outrar-se.... necessarios a todos os devires.
Abraços , Jorge

Tânia Marques disse...

Devir criança, uma utopia constante. Mal sabe ela o quanto está sendo moldada, esquadrinhada para cumprir seu futuro papel social. Hoje temos vários agravantes que tornam a infância precocemente alvo de adultos doentes, porque a sociedade está doente pelos seus contra-valores. Ainda bem que consegues resgatar suaves brisas, doces perfumes e gosto de algodão doce da tua infância. A minha foi uma infância bastante reprimida, pai severo, mãe submissa, mas contornei, contornei, contornei "todos" os obstáculos e, mesmo ainda tendo um entorno complicado, sinto-me muito feliz por ter sobrevivido às adversidades do caminho com inteligência e sensibilidade. Abç.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, boicotaram a infância e a violam; nosso devir criança... mora no sonho; e na luta por algo fazer por eles,nossos meninos.
José gil disse, e estudando os erês, vi ser verdade, se mata o devir criança, lá se vai todos os devires.
Abraços, Jorge