terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

OS ESCOLHOS DO AMOR: NOVELOS E NOS... DA ARTE DE AMAR.

                                             Jorge Bichuetti

Amamos. Amamos, sonhando com a felicidade...
Então, necessitamos admitir que só é possível este amor, se ele se consuma como um bom encontro.
Os bons encontros estão firmados pela potência da alegria, geram corpos que se compõem e se estruturam potentes, livres, audazes e ricos de felicidade.
Quando olhamos os vínculos amorosos , vemos que algo não está em sintonia com a teoria dos bons encontros e das paixões alegres.
O amor devia nos fazer brilhar, voar, cantar e sorrir ... Nos tornar encantantes e encantados.
Comumente, contudo, ele nos faz corpos tristes, cabisbaixos, ansiosos e tensos...
Se relação decompõe nosso corpo e nossa potência, é um mau encontro...
Perguntamos: por que procuramos maus encontros, quando desejamos amar e ser felizes?
Se fôssemos listar os motivos, este texto não teria um fim...
Alguns nos parecem emergir no dia-a-dia da clínica e da vida:
- o desafio é um mau conselheiro e mau companheiro quanto o tema é escolha amorosa;
- o nosso espelho não é nossa metade, nossa alma gémea; pois o amor não um aventura especular;
- a relação de dependência é o avesso da potência amorosa; pois gera servidão e toda servidão fomenta ódio, raiva e desamor;
- o narcisismo é o anti-amor; já que o amor envolve troca, doação, cumplicidade e partilha;
- o belo só cabe se, também, sabe cuidar; senão, é um caminho tortuoso para o amor já que um só gosta e só sabe ser cuidado;
- o édipo é um abismo sedutor; inevitavelmente, resultará numa relação de posse, ciúme, triangulação e traição.
e, ainda, sexo dado não existe; uma relação sexual prazerosa se inventa e se contrói no entre de uma relação.
Acima, estão citados algumas ilusões que nos guiam numa escolha amorosa desastrosa.
São matéria prima e fermento de um mau encontro...
Também, sofremos, frequentemente, por não aceitar a finitude dos encontros. Queremos perenizá-los... E, assim, permanecemos, indefinidamente, num relação já esgotada, vazia e asfixiante... uma relação agonizante.
E outras, por não quebrar nossa onipotência, e, deste modo, não  aceitar no campo das nossas vivências os desencontros: não amamos a todos, nem todos nos amarão...
Amar é encontro... um bom encontro.. Se acontece, celebremos; se não acontece, não há nada a fazer...
Há, sim, a caminhada e nela um infinitude de novos encontros e novas possibilidades de amar...

10 comentários:

Anne M. Moor disse...

Jorge

Que texto espetacular! Inspiração para um poetar :-)

beijos
Anne

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, muito da minha poesia nasce na clínica e na educação... trabalhos que eu amo como amo a poesia...E em todo canto, uma dor e um vazio, mas, igualmente, um encantamento: o tema amor...
Somos todos muito infelizes... penso; onde jogamos o nosso melhor, muitas vezes.
Daí, escrevi...
Penso em de vez quanto falar, mais especificamente sobre o que as dores revelam dos nossos enganos, desenganos, encantos e desencantos...
Abraços , Jorge

Anônimo disse...

Uma árvore é uma árvore. A visão, o tato, o cheiro, podem provar isto.
A verdade só é manifestada pelos sentidos.
O que a mente registra disto ou de qualquer outro evento é apenas um resumo daquilo que os sentidos processam.
A mente mente. Ilude.
O Homem, antes do advento do pensamento e das palavras sentia verdadeiramente o significado da realidade.
Com as palavras veio a corrupção, e hoje para muitos, uma árvore já não é mais uma árvore.
Chega se até a admitir que para salvar o mundo tenha se que matar a metade da população
Muitos desses matadores viraram ídolos.
Uma árvore deixou de ser uma árvore .
..................................
Amar é bem melhor.
É uma verdade.
Abraços

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Amigo, uma árvore é uma árvore e só um arvore até alguém amá-la...
A amor gera vida... Carinho, cumplicidade, ternura e doação...
Sua reflexão me encanta e nela me vejo: porisso disse da árvore; é algo real comigo, se a penso é uma árvore, se a sinto afetado pela potência do amor é um pedaço do azul infinito pintado de verde com as tintas do meu amor...
Amar.. amar... e só amar... Nossa Florbela Espanca, assim, poetizava...
Abraços, carinho, Jorge

Marcia disse...

Querido Jorge,

Lindas palavras, carícia para alma, como sempre.
Hoje li um texto de Facundo Cabral, que igualmente adorei.
Não estás deprimido, estás distraído..Amei isso.

"No estás deprimido, estás distraído, distraído de la vida que puebla. Distraído de la vida que te rodea: delfines, bosques, mares, montañas, ríos.
No caigas en lo que cayó tu hermano, que sufre por un ser humano cuando en el mundo hay 5,600 millones. Además no es tan malo vivir solo. Yo la paso bien, decidiendo a cada instante lo que quiero hacer, y gracias a la soledad me conozco, algo fundamental para vivir."

Beijoca!

Marcia

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Márcia, um texto sempre nos abre portas; um imensidão de flores e estrelas... Uma vida por-vir...
Nossas lágrimas não são, como comumente aceitamos, um fracasso, um não... São a vida na sua amplitude e ambigüidade... Um sim, um não... Assim, vamos vivendo, remando... Desbravando nos horizontes um novo encontro, um amor...
abraços, Jorge

Camila Bahia Leite disse...

Caro amigo Jorge...
Este foi um belo presente hoje...
Suas palavras adoçam minha vida, que ainda diz que muito pode ser vivido e alentam meu coração.
Grande beijo e obrigada pelo encantamento!
Camila

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Camila, doce menina, de Dona Beja e das estrelas que reluzem no infinito...
Se amamos, devemos seguir.... Um, outro, novos amores...
A luta é a mesma... Não "juntar amor e dor"...
Podemos amar e sonhar...
Experimentar e cantar...
Basta a ousadia de se permitir desejar... um pouco mais de alegria, de alegria e de sonhar...
Abraços, Jorge

Lillian disse...

Jorge, como sempre, venho agradecer novamente as palavras. Trazem algo de muito importante para mim, seja este algo novo ou 're-novo' (rsrsrs)

Mas confesso que as vezes este 're-novo' me desperta um grande incomodo quando percebo que deixo para tras o que já foi aprendido (sei lá se realmente foi aprendido...) e repito velhos erros. Ainda sou pega por minhas próprias armadilhas, velhas conhecidas...

NÃO FAZ SENTIDO

Não faz sentido,
este sentimento egoísta
de julgo contigo.

Um amor se fez
o passado se foi
mudou tudo de vez

Não faz sentido
bater à porta
este antigo

Bate ciúme,
bate perda,
Bate incompreensão.

Não faz sentido
minha infelicidade
frente ao teu sorriso.

Definitivamente,
não é justo conosco
e não faz sentido...

Lillian Naves

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

lillian dá medo... mas é maravilhoso sentir-se um eterno aprendiz... da, na e para a vida.
Abraços,
Belíssimo poema...
abraços, Jorge