domingo, 6 de fevereiro de 2011

SOCIEDADE DE AMIGOS: MARTA RÚBIA DE REZENDE, UMA FLOR NA IMENSIDÃO...

MORRER DE AMOR
                         Marta Rúbia de Rezende
Atravessar seus olhos azeitados... buraco negro.
Cheirar sua face... lírios do campo.
Beijar seus lábios... boca do inferno.
Tocar seu corpo... máquina de amor.
... apagar mentes, acender delírios, afastar medos, trotar horizontes, inundar paisagens, esquecer nomes, nadar memórias, vibrar clarões, chupar vinhas, lamber dentes, encostar pés, navegar céus, apertar mãos, morrer de rir, chorar de prazer, cantar passarinhos, cultivar flor, amar o amor.
Conjugar vidas e verbos até que a pequena morte nos separe. Amém.
Morrer vale a pena quando o amor não é pequeno.

2 comentários:

Marta Rezende disse...

Jorge querido, esse poemeto preguiçoso eu o fiz de estalo (como tudo que faço) para atender um pedido seu antigo de que eu escrevesse sobre sexualidade, erotismo e amor. Naquele momento eu estava totalmente desexualizada. Não havia nenhum sentido falar em sexualidade. Seria só discurso vazio.

Resexualizada. Poesia amorosa. Poesia erótica. Aí vem. Há um poço fundo a ser explorado. "Sinto-me livre para fracassar" (Bataille).

Desexualizar-resexualizar. O movimento da sexualidade. O movimento da vida. O movimento por um nova terra e um novo povo por vir. Vindo.

Poeta eu não sou , só brinco de traçar linhas, mas essa que segue abaixo é poeta. Essa sim. Essa traça linhas fantásticas. HILDA HILST. A poesia dela é a mais erótica que já lí, de um erotismo ao mesmo tempo agressivo e delicado como é o DESEJO.

beijo
Marta

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DESEJO

Quem és? Perguntei ao desejo.
Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.


I
Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.

II
Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos. Me vêm fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura.
Crueldade.

III
Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.

IV
Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?

Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Esse da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quê? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Marta, ela é ótima,, mas, não posso deixar de dizer que amei o seu poemeto: forte, intenso e marítimo... Move-se e nos movem como se o amor fose ondas..
A sexualidade é um imperativo chato, e um acontecimento esplendoroso...
Me parece muito necessário: administrá-la como se fosse um barco... sem o temor do alto-mar, mas, também, sem menosprezo pelo cais...
Fomos muito feliz, ontem, amigo, a plenária parecia uma socieade de amigos com alegria, ousadia e sonhos...
Vai rolar..
Lhe adoro...
Beijos com carinho e ternura,
Jorge