terça-feira, 8 de março de 2011

DIÁRIO DE BORDO: LABIRINTOS E ESFINGES

                                                                 Jorge Bichuetti

Noite serena. Silêncio. A Lua adormeceu, confiante e tranquila... Lá fora, uma brisa suave e um cheiro de terra molhada. As folhas caídas atapetam os trilhos da minha noturna caminhada.
Hoje, dia internacional da mulher: luta e celebração. Uma luta pelo fim da violência e da discriminação e uma celebração pela ternura e magia que a mulher coloca no mundo.
A vida segue... Não avançamos, senão prosseguimos...
Viver é caminhar...
Cada passo, uma nova experiência; e, nela, uma descoberta, uma mudança, um crescimento...
Somos errantes... e vivemos de mudanças e estas se mostram possíveis na labuta e no esforço de prosseguir, ainda que entre espinhos, pedras, obstáculos e críticas...
Ainda que chorando, necessitamos seguir...
No caminho, se encontra nosso consolo, novas saídas e novos rumos.
Ele nos modifica e nos permite ver a vida desnuda... Longe das máscaras e roupagens que o mundo lhe dá...
Longe, do individualismo, do consumismo, o espetáculo dos gloriosos vendedores e vencedores.
O caminho simplifica e nos simplica. Nos tornam menos gananciosos e menos voluntariosos. E torna a vida singela e faceira: uma experiência de aprendizado e crescimento que se dá no torvelinho das nossas lutas.
O caminho seca-nos as lágrimas... pois, ele nos permite olhar vida do cume de uma montanha e, ali, perto da imensidão, tudo muda... Vemos a vida e, nela, o amor tecendo seus laços de paz e união, partilha e comunhão, generosidade e ternura...
O outro já não nos é um extranho, nem um intruso... Ele somos nós...
Todos vivemos e somente precisamos caminhar para aprender o valor dos sonhos, da alegria, da amizade e da solidariedade.
Com estes tesouros não há no caminho labirintos nem esfinges...
Um labirinto se forma quando na solidão nos perdemos e solitários acreditamos que só sairemos dali com nossa inteligência e audácia.
Podemos voar...
Podemos derrubar com o outro, que agora também eu sou, uma muralha, antes intransponível.
E a esfinge não pergunta. se assumimos o leme a nossa caminhada, somos nós que fazemos as perguntas.
Caminhamos e perguntamos... Quando conseguimos uma resposta, renova-se e reinicia-se o caminhar...
O segredo da vida , assim, se revela simples e fácil...
Caminhamos, simplificando a nós mesmos e o mundo..
Caminhamos, amando e , assim, criamos uma rede de mútua cooperação.
Caminhamos, partilhando... Então, cheios de generosidade e ternura nos sentiremos com a vida cheia de sentido: olharemos o mundo e o belo da natureza nos encantará; olharemos os homens e suas dores e nos sentiremos mobilizados na invenção de caminhos e sonhos capazes de darem às nossas mãos uma função de cuidado e acolhimento,de produção do novo e da mudança...
Assim, nossa vida será rica de sentido... Porquanto, vivemos, caminhando, mas mergulhados no infinito amor..

2 comentários:

Tânia Marques disse...

Jorge, lendo este teu magnífico texto, pude refletir muito sobre a minha vida e, também, caminhando pelo teu registro poético, saber um pouco mais de ti, algo sobre os teus medos, os teus sonhos, a tua personalidade, as tuas alegrias e decepções. Somos humanos e, por isso, aptos a constantes mudanças internas, à medida que evoluímos espiritualmente, que conseguimos enxergar em nós mesmos e no outro nossas/suas qualidades e nossos/seus defeitos. Questiono, o que é defeito para nós? Que paradigmas usamos para rotularmos alguma atitude como negativa? Da mesma forma, faço essas perguntas para as nossas qualidades. A bondade, a solidariedade, os sentimentos mais nobres, por exemplo, servem para o capitalismo? Por que nos fechamos no nosso mundo interior e não damos uma chance a nós mesmos para sermos felizes como somos? Ser feliz é partilhar alegrias e tristezas, é amparar e ser amparado, é enxergar a evolução ou involução do outro e procurar ajudá-lo a ser melhor, é derrubar os escudos de proteção, não para nos fragilizarmos mais ainda, mas para aprendermos a aceitar os novos momentos como novas produções de vida-alegria. Beijos com carinho e amizade.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

TAnia, este diário é um cantinho onde trabalho minhas questões e minhas inquietações; meus medos e sonhos... Certo versus errado; bem versus mal são maniqueísmo sempre produtivos: a busca da ternura, da suavidade, do amor incondicional e da generosidade, da paz e da partilha, da liberdade e da solidariedade me ajudam mais.... a viver e a deixar os outro viverem.
Abraços com ternura e carinho, jorge